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6. set.2025–11.jan.2026
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Guadalupe recebe a segunda Invocação da 36ª Bienal de São Paulo

Dando continuidade à série de Invocações, uma sequência de programas que percorrem quatro cidades ao redor do mundo como parte das ações que antecedem a 36ª Bienal de São Paulo, o projeto chega a Guadalupe, território localizado na América Central. Esta edição, intitulada Bigidi mè pa tonbé! [Balança mas não cai!], será realizada de 5 a 7 de dezembro na Lafabri’k, espaço liderado pela coreógrafa, antropóloga e educadora dra. Léna Blou, e tem a dança como tema central.

O conceito central desta Invocação parte do bigidi, prática fundamentada na dança guadalupense gwoka. A dança, baseada na improvisação, alterna momentos de ruptura e continuidade em um constante esforço para manter o equilíbrio. A coreógrafa, antropóloga e educadora Léna Blou, uma das principais referências dessa tradição, identifica no bigidi a essência da dança caribenha, que, segundo ela, “sabe estabilizar a instabilidade e transformar a desarmonia em harmonia”. Blou é a idealizadora do conceito Bigidi’art, que conecta a dança a uma filosofia de vida que abraça a impermanência e a adaptação como formas de sobrevivência e resistência cultural.

A Invocação será realizada no Lafabri’k, e oferece uma extensa programação que reúne doze participantes de diversas áreas, incluindo dança, música, poesia, artes visuais e ciências, para compartilhar abordagens interdisciplinares em performances, palestras e workshops.

 

Sobre as Invocações

Em preparação para a 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, e para introduzir e afinar-se com a trama conceitual, uma série de programas públicos chamados Invocações acontecerão em quatro diferentes cidades ao redor do mundo: Marrakech; Les Abymes, Guadalupe; Zanzibar; e Tóquio.

Cada edição espelha o conceito da exposição de “humanidade como prática a partir de um contexto local específico, reconfigurando-o e expandindo-o por meio de eventos ao vivo e uma publicação. O objetivo das Invocações é expandir o vocabulário da humanidade em pontos de interseção entre diferentes longitudes e latitudes.

Se a humanidade fosse um verbo, como ela seria conjugada nessas distintas geografias? O diretor senegalês Djibril Diop Mambéty uma vez descreveu o cinema – e, portanto, a arte – como “la grammaire de ma grande mère” [a gramática da minha avó], em alusão à familiaridade da arte, os aspectos intergeracionais das práticas artísticas, o coloquialismo da arte e a arte/prática artística enquanto gramática. As quatro Invocações exploram como os fazeres artísticos ao redor do globo ajudam a situar, enriquecer e expandir essas gramáticas.

Veja mais no site da exposição.

 

Programação

5 dez 2024, qui

18h–19h Introdução e boas-vindas dra. Léna Blou, prof. dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung e Anna Roberta Goetz

19h–19h30 Performance de dança gwoka com Raymonde Torin, baseado nos sete fundamentos da dança gwoka

19h30–20h Performance musical com Fritz Naffer e a banda gwoka Foubap

6 dez 2024, sexta-feira

10h – 11h: Le Bigidi, un savoir incarné dans l’écrin du Lawonn [O bigidi, um saber encarnado no ambiente do Lawonn] – Conferência e oficina de dança com dr. Léna Blou sobre a prática do Bigidi’art

11h30 – 12h30: Impactos das mudanças climáticas, adaptação e resiliência no Caribe: Uma narrativa sobre equilíbrio, harmonia e resiliência do sistema terrestre – palestra de prof. Michelle Myco

14h30–15h30: Dans le ventre des oiseaux, dans la bouche des femmes sauvages: une archive déparlante [No ventre dos pássaros, na boca das mulheres selvagens: um arquivo que desfala] – Leitura performática por Olivier Marboeuf

16h–17h: Slam poético e instalação visual por Dory Sélèsprika and Anaïs Verspan

7 dez 2024, sábado

10h30 – 11h30: jwen, sanblé, kontré – Uma proposta performática de Yane Mareine, Minia Biabiany e Santiago Quintana 

12h – 13h: O Blip e o Pi tak: verbos humanos do improvável – Palestra de Tiéno Muntu (Dr. Etienne Jean-Baptiste), doutor em música, história e sociedade

15h – 16h: Mapeando fugas coreográficas: escrita arquipelágica na dança – Palestra-performance de Lazaro Benitèz. 

16h30 – 18h: Kalanje – Performance de Geordy Zodidat Alexis

19h30 – 21h: Swaré Lewoz com o grupo gwoka Foubap

 

Sobre os participantes

Anaïs Verspan é artista visual de Guadalupe, começou sua carreira em design de moda, abrindo o showroom Afro Excentrik após três anos de estudo no Instituto Regional de Artes Visuais da Martinica. Em 2009, estreou na pintura no Carrefour des Arts, em Le Gosier, e realizou sua primeira individual, Bigidi Plakata, na galeria Imagin’Art em Sainte-Rose. Desde então, apresentou suas obras local, nacional e internacionalmente (Senegal, Alemanha, Mônaco, Portugal), destacando-se com exposições como Karata (2014). Seu universo visual equilibra abstração e figuração, passado e presente, criando peças que exploram a dualidade cultural e experiências individuais.

Audrey Celeste (Dorysélèsprika) é uma artista de slam de Guadalupe. Destacou-se no primeiro campeonato de slam da Ilha em 2006. Suas palavras e sons, profundamente enraizados na cultura local, trazem uma universalidade que reflete sua história pessoal e o espírito do tempo. Sua poesia, como no livro TAN, celebra a natureza, a história de Guadalupe, as trocas culturais que a moldam e a resistência contra injustiças. Além de performances em festivais e colaborações musicais, Dorysélèsprika homenageia os ancestrais que preservaram a cultura, costumes e língua de sua terra natal.  

Foubap é um grupo musical fundado por Fritz Naffer, amplamente reconhecido em Guadalupe como uma figura de destaque da nova geração do ritmo gwoka (também chamado de tambour ka). No grupo, Naffer desempenha o papel de boula, responsável por manter o ritmo pulsante característico do estilo. Foubap é autor de álbuns icônicos como Simen’N Kontra – Lévé’y Ho!!! e o cultuado Eve on Pwen (1984), que ajudaram a consolidar o gwoka como uma importante expressão da identidade cultural guadalupenha. Com uma formação de quatro músicos, o Foubap conduzirá na Invocação uma apresentação de Léwoz, uma manifestação cultural tradicional que combina música, dança e poesia, funcionando simultaneamente como celebração comunitária e espaço de resistência cultural. Suas performances são marcadas por improvisação, diálogo rítmico e um profundo respeito pelas tradições de Guadalupe.

Geordy Alexis Zodidat nasceu em 1986 em Guadalupe, é um artista multidisciplinar que utiliza desenho, performance, instalação e escrita para explorar memória coletiva e identidade cultural. Formado pela Escola de Belas Artes de Montpellier, seus trabalhos abordam temas como convivência e o impacto das múltiplas heranças culturais caribenhas, africanas e europeias. Internacionalmente reconhecido, Geordy promove um diálogo humanista sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade.  

Lazaro Benitez é pesquisador de dança e coreógrafo colombiano, investiga os limites entre dança e performance, abordando temas como fronteiras, gênero e ativismo artístico. Mestre pela Universidade Paris 8, ele é fundador do laboratório De la memoria fragmentada e colaborador de revistas especializadas. Seu trabalho cartografa a dança contemporânea no Caribe, promovendo oficinas e palestras que conectam sociedade e coreografia.

Léna Blou é antropóloga, dançarina, coreógrafa e educadora de Guadalupe, é pioneira na técnica Bigidi’art. Inspirada na dança léwòz, a prática explora o corpo em desequilíbrio como modo de autodeterminação. Criadora do método pedagógico contemporâneo Techni’ka, baseado nos ritmos e danças gwoka, Blou fundou o Centro de Estudos de Dança e Coreografia, a Companhia Trilogie Léna Blou e o Larel Bigidi’Art. Seu trabalho conecta prática artística, pesquisa e educação, explorando a desordem e adaptabilidade como resistência criativa em tempos de precariedade social, política e ambiental.  

Michelle Mycoo produz um corpo de trabalho que concentra-se em fortalecer a interface entre ciência, política e prática, alinhando o uso ideal do solo, a provisão de infraestrutura e a gestão ambiental, com o objetivo de apoiar assentamentos humanos sustentáveis. Entre suas contribuições acadêmicas, destacam-se 43 publicações internacionais revisadas por pares sobre uma ampla gama de áreas temáticas em estudos de caso caribenhos relacionados ao planejamento urbano e regional. Os temas abordados incluem: sustentabilidade urbana, mudanças climáticas, planejamento e gestão integrada de zonas costeiras, gestão da demanda de água urbana, redução de riscos de desastres, turismo sustentável, comunidades fechadas e desenvolvimento periurbano. Além de artigos em revistas científicas, livros e capítulos de livros, ela também escreveu manuais de treinamento, resumos de políticas, boletins informativos, pontos de vista e 40 relatórios técnicos para formuladores de políticas e profissionais em nível nacional, regional e internacional.

Minia Biabiany nasceu em 1988 em Basse-Terre, explora a relação entre território e história no contexto caribenho por meio de instalações que combinam materiais naturais e manufaturados. Criadora do projeto coletivo Semillero Caribe, Minia investiga pedagogias caribenhas em plataformas como Doukou. Suas obras, apresentadas em espaços como o Palais de Tokyo, conectam memória da escravidão, exploração territorial e linguagem, promovendo uma experiência reflexiva e sensorial para o público.  

Olivier Marboeuf é escritor, contador de histórias e curador. Fundador do centro de arte independente Espace Khiasma em Paris, Marboeuf desenvolve programas que abordam representações de minorias por meio de exposições, debates e performances. Desde 2017, trabalha com a plataforma experimental R22 Tout-Monde, explorando transmissões de conhecimento através de práticas narrativas especulativas. Em suas palestras-performances, Marboeuf mistura narração e desenho ao vivo, criando situações culturais efêmeras que estimulam conversas sobre as culturas afro-caribenhas.  

Raymonde Torin é uma dançarina-coreógrafa, professora de educação física e dança, além de diretora artística da companhia PATORAY e fundadora da associação Fòs Kiltirèl Kamodjaka. Profundamente conectada à dança e à literatura, cresceu em uma família que preserva a tradição oral das Índias Ocidentais, especialmente por meio de contos e lendas. Autora de Lewoz, uma obra educativa em quatro idiomas que aborda o aprendizado da dança gwoka, Raymonde também se aventurou na literatura fantástica com seu primeiro romance, Soukou nyanmé: peau cachée, peau sacrée. Nesse livro, ela explora e amplifica a riqueza da imaginação crioula, tecendo narrativas que celebram e renovam o legado cultural da região.

Tiéno Muntu (Étienne Jean-Baptiste) é músico e pesquisador da Martinica, combina antropologia e prática musical em suas investigações sobre o Bèlè. Com doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, ele é pioneiro na formação em artes e práticas culturais caribenhas. Muntu desafia as narrativas de desumanização do “Novo Mundo” ao explorar expressões musicais como Damier, Fouytè e Bèlè, que reconfiguram a humanidade como resistência cultural.  

 

Serviço
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus

Invocação #2 – Guadalupe, Les Abymes
Bigidi mè pa tonbé! [Balança mas não cai!]
5 – 7 dez 2024
qui, 18h – 20h
sex, 10h – 17h
sáb, 10h30 – 21h
Lafabri’k
27 bis et 29 rue Abel Libany, 3e rue de l’Assainissement
Les Abymes, Guadeloupe
entrada gratuita

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