Afluente – Ensaio Geral – Ato II – Version(s), de Dorothée Munyaneza, e Treino, lutas e conversas, de Boxe Autônomo
sáb, 10h30 – 21h
Nos dias 16 e 17 de outubro, quinta e sexta, a performance Version(s), de Dorothée Munyaneza, é apresentada às 19h30 e é seguida de um sparring, uma apresentação de boxe, feito por atletas do Boxe Autônomo. Antes da performance, às 18h, o coletivo também faz um de seus treinos regulares, e o público é convidado a participar. Os ingressos são distribuídos gratuitamente online, via Sympla, para assistir apenas à performance ou para participar também do treino. No dia 18 de outubro, sábado, a programação acontece das 10h30 às 21h e é encabeçada pelo Boxe Autônomo. O dia tem treino aberto, almoço coletivo, aula, conversas, performances e uma festa de encerramento. Não há a necessidade de retirada de ingressos. Este evento integra a programação de Afluentes, programas desenvolvidos por parceiros como parte da programação pública da 36ª Bienal fora do Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
O boxe sempre foi mais do que socos. Nas mãos de Dorothée Munyaneza e Boxe Autônomo, torna-se um método de escuta, uma linguagem para o que não é dito, uma forma de estarmos juntos em tensão e cuidado. Na Casa do Povo, o Ato II de Ensaio Geral, Afluente da 36ª Bienal de São Paulo, é uma programação compartilhada que coloca em diálogo duas práticas distintas, porém ressonantes — uma que emerge da poética do palco, a outra da pedagogia cotidiana do ringue.
Ao longo de três dias, o boxe se transforma em um terreno de relação, ruptura e reparação – entre a periferia de Marselha e o bairro do Bom Retiro, no centro de São Paulo, entre a arte e a prática cotidiana, entre a história pessoal e a reimaginação coletiva.
Version(s) é a obra mais recente de Dorothée Munyaneza, desenvolvida em conversa com Christian Nka, ex-boxeador da periferia norte de Marselha, e o músico Ben LaMar Gay, de Chicago. Parte retrato, parte invocação, a peça navega entre a luta e a transmissão. Munyaneza busca o que a história não registrou: os gestos transmitidos em silêncio, o conhecimento carregado na memória muscular, as contradições da masculinidade forjadas sob pressão. A luta não é reencenada — ela é desmontada, reaproveitada, cuidada.
Em Version(s), o ringue se torna um palco, mas na Casa do Povo, o inverso já aconteceu. Desde 2017, o Boxe Autônomo transformou o espaço de arte numa academia antifascista. Nascido do desejo de tirar o boxe de machismo e da sua institucionalização, o Boxe Autônomo cresceu a partir de aulas itinerantes em ocupações e favelas e, com o tempo, tornou-se parte viva da arquitetura da Casa do Povo – sessões diárias se integrando ao ritmo do prédio, ecoando a história de pedagogia radical e de prática coletiva que caracteriza essa instituição judaica também antifascista. O ringue se torna um espaço democrático: aberto, poroso e autogerido; um espaço onde os corpos podem renegociar seu lugar.
O encontro entre Boxe Autônomo e Munyaneza não busca fundir essas práticas, mas mantê-las lado a lado, para ver o que ressoa entre elas.
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Dorothée Munyaneza é uma artista multidisciplinar que utiliza a música, o canto, o texto e o movimento para lidar com a ruptura como uma força dinâmica e criar espaços de ressonância e esperança. Inspirando-se na diversidade de sua herança cultural – sua infância em Ruanda, seus 14 anos em Londres, sua mudança para Paris e, em seguida, sua residência em Marselha –, suas criações tecem diálogos com convidados parceiros, para transmitir e celebrar as vozes daqueles que são silenciados e revelar as cicatrizes da história. É artista associada do Chaillot – Théâtre National de la Danse em Paris, bem como da Maison de la Danse e da Biennale de la Danse em Lyon. Em 2023, recebeu o Prêmio Europeu de Dança Salavisa por seu trabalho.
Boxe Autônomo atua em ocupações e espaços públicos em São Paulo desde 2015, entendendo o esporte como um direito social e como plataforma para o cultivo de valores como antirracismo, antifascismo e combate a todas as formas de discriminação. A partir da experiência do esporte popular, o grupo oferece treinos de boxe na Casa do Povo com a proposta de uma academia gratuita voltada para o bairro do Bom Retiro.
Sobre Ensaio Geral
De muitas formas, o Teatro de Arte Israelita Brasileiro (TAIB) é um teatro submerso. Tendo funcionado dos anos 1960 até o final da década de 1990, ele se escondia no subsolo da Casa do Povo, um refúgio clandestino para imigrantes e ativistas, uma fortaleza de resistência durante a ditadura brasileira, um centro de performance experimental e um caldeirão das revoluções artísticas nos anos 1960 e 1970. Sua história é rica em teatro político e popular, coral e formas experimentais que sempre desafiaram os limites da performance, entre o amador e o profissional. Depois de uma inundação em 2000, o teatro ficou em silêncio por anos, e suas histórias ficaram submersas.
Ensaio geral é um programa de performance dentro da 36ª Bienal de São Paulo, desenvolvido e enraizado nesse mesmo espaço. O teatro não é apenas uma moldura, mas uma proposição: um convite para questionar e reimaginar o que o teatro pode ser, ensaiando-o em escala real, daí o nome do programa. Ensaio geral se concentra em práticas muitas vezes excluídas das histórias canônicas do teatro e dos palcos institucionais. Neste contexto, reabrir o TAIB não é só um ato de reivindicar o espaço, mas de se perguntar: o que é o teatro e o que ele pode fazer? É a inauguração de um teatro que ainda está por vir.
O programa é curado por Benjamin Seroussi (diretor artístico da Casa do Povo) e Daniel Blanga Gubbay (integrante da direção artística do Kunstenfestivaldesarts em Bruxelas).
Programação completa
Quinta, 16 de outubro
18h às 19h20 – Treino aberto de boxe
Treinadores: Anderson Diniz, Matheus Cruz e Michel “Micha” Soares
Treino aberto de fundamentos do boxe para praticantes e iniciantes da modalidade esportiva. Quem participar desse treino recebe convite para assistir ao espetáculo VERSION(S). Não é preciso nenhum conhecimento prévio para treinar boxe. As pessoas precisam trazer roupas confortáveis e calçados de esporte. Quem participa do treino pode retirar seu ingresso para a peça. 10 vagas por treino.
19h30 – Version(s)
De Dorothée Munyaneza, com Christian Nka
Parte retrato, parte invocação, a peça navega entre a luta e a transmissão. Munyaneza busca o que a história não registrou: os gestos transmitidos em silêncio, o conhecimento carregado na memória muscular, as contradições da masculinidade forjadas sob pressão. A luta não é reencenada — ela é desmontada, reaproveitada, cuidada.
20h45 – Sparring
Apresentação de dois combates entre atletas de alto rendimento, realizados dentro das regulamentações de uma luta oficial.
Sexta, 17 de outubro
18h – treino de boxe*
19h30 – Version(s)
20h45 – Sparring
Sábado, 18 de outubro
10h – Recepção e café da manhã
10h30 – Conversa: Ancestralidade e valentia: o boxe olímpico brasileiro entre o passado, presente e futuro. Com Graziele Jesus e Antonio Cruz de Jesus “Gibi”, mediação por Michel de Paula Soares.
12h30 – Almoço coletivo: Nutrição e tititi, com a comunidade Boxe Autônomo. Apoio: Cesta Aberta
14h30 – Aula-performance: Aproximações entre a dança popular brasileira e o boxe, com Michel de Paula Soares “Micha”. Direção: Michel de Paula Soares, performance: Michel de Paula Soares e Leonardo Gimenez.
16h – Performance: Quadrilátero da fragilidade. Uma peça na qual o artista convida um boxeador profissional para lutar, e durante o combate, discutem sobre a fragilidade enquanto trocam socos. A ação propõe que os dois participantes, Caio Vrau e Boxeador Profissional, enfrentem seus medos, expectativas e silêncios, transformando essa luta em um encontro simbólico, onde as palavras se tornam golpes e a fragilidade se converte em força. Direção e dramaturgia: Caio Vrau e Mariana Gil Rios. Treinador: Michel “Micha” Soares. Performance: Boxeadores: Caio Vrau e Lucas Martins / Juíza: Bea Gonçalves / Corners: Fernanda Selva e Fran Dionisio. Cenografia: Valentina Soares. Figurino: Fernanda Selva. Rádio Acufeno: Deise Moon, Lidia Klapf e Maestro Alfredo Jazz (Marcelo Zoppi, Pablo Romart e Juliano Zopp)
17h às 21h – Festa de encerramento: GERAL EM CHAMAS
Serviço
Afluente – Ensaio Geral – Ato II – Version(s), de Dorothée Munyaneza, e Treino, lutas e conversas, de Boxe Autônomo
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
16–18 out 2025
qui e sex, treino (18h), performance (19h30) e sparring (20h45)
sáb, 10h30–21h
Casa do Povo
Rua Três Rios, 252, Bom Retiro
Próximo à estação Tiradentes do metrô
São Paulo, SP
retirada de ingressos online pelo Sympla
sujeito a lotação: 100 lugares
entrada gratuita