María Magdalena Campos-Pons, em seus 40 anos como artista multidisciplinar, constrói obras a partir de narrativas autobiográficas que dialogam com sua ancestralidade cubana, marcada por heranças hispânicas, chinesas e africanas. Sua interseccionalidade se transforma em potência criativa para representar múltiplas experiências e realidades. Como afirma Marisa Del Toro no catálogo desta Bienal, “dizer o indizível, testemunhar e contemplar a verdade estão no centro da trajetória da artista”.
O espaço dedicado a Campos-Pons se organiza como um grande círculo de sete metros de diâmetro. Tecidos translúcidos, estampados com padrões florais, descem do teto em anéis concêntricos, criando sobreposições de cor e transparência. No centro ergue-se a escultura Macuto (2025), em metal pintado em tons quentes de vermelho, laranja e amarelo, com 140 centímetros de altura por 35 de largura. A peça, inspirada na forma de uma helicônia tropical, funciona como eixo ritual do espaço, em torno do qual o público pode se sentar. Periodicamente, difusores liberam fragrâncias de ervas e especiarias ligadas a práticas de cura, enquanto alto-falantes projetam cantos, vozes e ritmos afro-diaspóricos, reforçando a dimensão comunitária e espiritual da obra.
A instalação investiga a relação entre materialidade e espiritualidade, a sabedoria ancestral, a natureza do tempo e o potencial de práticas coletivas de cura. Estruturada como uma experiência multissensorial – com estímulos olfativos, sonoros, táteis, gustativos e performativos –, dissolve fronteiras entre passado, presente e futuro.
Na parede que circunda o núcleo, seis aquarelas com nanquim sobre papel (160 x 109 cm cada) expandem a atmosfera espiritual do espaço. Entre elas, Mama (2025) se destaca pela figura feminina de braços erguidos, envolta por ondas azuis e por uma auréola celeste, fundindo referências do catolicismo e da tradição iorubá para evocar maternidade, proteção e poder espiritual. Já em Guided by the Stars [Guiado pelas estrelas] (2025), silhuetas em tons de azul, violeta e ocre são atravessadas por pontos luminosos que lembram constelações, metáfora da experiência diaspórica guiada pelo cosmos. As demais obras – OluFunKe 1 e 2, Osmare e Celestial Warrior [Guerreiro celestial] – completam o conjunto, trazendo símbolos de força, ancestralidade e resistência.
Campos-Pons transforma o espaço expositivo em um portal de comunhão espiritual, onde pintura, escultura, som e aroma se entrelaçam para criar um lugar de cura, partilha e contemplação. Ainda segundo Del Toro, “Campos-Pons é uma artista que canaliza a energia do corpo negro, das experiências e das realidades como uma forma de comunicação visual, com informações do passado e do presente, mas, acima de tudo, como uma homenagem aos tempos futuros e às possibilidades da existência humana.”