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Zózimo Bulbul

Zózimo Bulbul

Raquel Barreto

 

Zózimo Bulbul (1937-2013) foi diretor de cinema e ator. Interpretou o primeiro protagonista negro de uma telenovela brasileira. Participou do Cinema Novo, atuando em importantes produções da época. Pioneiro em todas as frentes artísticas em que trabalhou, negou-se a interpretar papéis estereotipados, embora o racismo tenha contornado sua carreira e restringido muitos de seus movimentos. Possivelmente, o caso mais emblemático foi o filme Compasso de espera (1969), de Antunes Filho, em que representou um homem negro de classe média que se envolve com uma mulher branca, mantendo uma relação inter-racial desaprovada por todos, inclusive pela censura, que não permitiu a veiculação do filme.

Zózimo é considerado o “criador” do cinema negro brasileiro, não por ter sido o primeiro (antes dele outros diretores negros produziram filmes no país), mas por seu gesto e proposição inaugurais adotados em seu curta Alma no olho (1973). Vale mencionar o experimentalismo do filme, em que o próprio diretor atua, e em que, acompanhado da música de John Coltrane, reconta de forma performática a história do negro no continente americano sob a óptica da negritude. Na obra se formavam as bases do cinema negro de autor no Brasil, fundamentado na concepção de negros dirigirem e roteirizarem suas narrativas para terem impressos seus pontos de vista e histórias.

Em plena ditadura militar, o filme teve inúmeros problemas com a censura. O diretor foi levado a dar depoimentos e questionado acerca de cenas consideradas esquerdistas. Por isso, em 1974, Zózimo decidiu deixar o país, levando uma cópia do filme consigo e apresentando-o internacionalmente. Regressou ao Brasil em 1977. Seguiu na criação de obras ao longo das décadas de 1970 e 1980, produzindo curtas-metragens, em sua maioria. O mais conhecido foi o emblemático Abolição (1988), uma longa narrativa que, por meio de material de pesquisa e depoimentos, tematiza o final da escravidão no Brasil, a exclusão social e a resistência da população negra.

Em 2007, após uma viagem a Toulouse, na França, Zózimo constatou que seria necessário criar espaços próprios de exibição para que seus filmes pudessem ser vistos, uma vez que não havia locais de exibição dispostos a acolher sua obra, estendendo-se a uma preocupação de articular coletivamente formas de promover e popularizar a produção audiovisual negra, africana e diaspórica. Assim surgiu o Centro Afro-Carioca de Cinema, um local de apresentação e de discussão de realizadores negros.

Seguindo as preocupações de seu fundador e um devir quilombista, o Centro se constituiu em um espaço de memória e concepção de uma estética negra no cinema brasileiro, responsável pelos Encontros de Cinema Negro – Brasil, África & Caribe, atualmente na 17a edição. Estima-se que mais de 1.500 obras de cineastas da África, Caribe e Brasil já tenham sido exibidas, com foco na promoção dos filmes, e não na competição.

Raquel Barreto

Zózimo Bulbul (1937–2013, Rio de Janeiro) foi ator, diretor e roteirista de cinema. Iniciou sua carreira nos anos 1960 no Centro Popular de Cultura da UNE e despontou como ator no Cinema Novo, trabalhando com diretores como Glauber Rocha, Leon Hirszman e Cacá Diegues. Foi o primeiro protagonista negro de uma telenovela brasileira. Em 1974, dirigiu seu primeiro filme, Alma no olho, obra referência na cinematografia afro-brasileira. Dirigiu mais de dez filmes voltados para a valorização da cultura negra. Em 2007, fundou o Centro Afrocarioca de Cinema e o Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, consolidando seu legado como referência para novas gerações de cineastas negros.