A obra de Trương Công Tùng resiste a qualquer finalidade transparente. Seu conjunto diversificado de trabalhos em mídias variadas – vídeos, instalações e pinturas em laca – cultiva narrativas não lineares que se desdobram em múltiplos espaços. Forma um ecossistema sinérgico que se posiciona contra visões monolíticas da história, enquanto o artista contempla a atmosfera que envolve um grão de terra ou investiga os interstícios entre pixels. Sua estética se constrói na justaposição e na dissolução, articulada por esse tendão metafórico que costura camadas fragmentadas de memórias, seja de uma paisagem, de uma pessoa, de um objeto. A instalação de Trương para a 36a Bienal de São Paulo representa um momento pivotal em sua prática, ao incorporar elementos sonoros. Ele cria uma paisagem etérea composta de colmeias de madeira resgatadas de apiários nas Terras Altas Centrais do Vietnã, sua terra natal, e embute sensores nos objetos, criando híbridos entre materiais orgânicos e dispositivos tecnológicos. Espalhados pelo chão, objetos encontrados e ressignificados da região: vasos laqueados, tecidos em tons de ocre tingidos com areia de basalto vermelho, instrumentos musicais feitos de cabaça e um cupinzeiro recoberto de ouro.
Enquanto o público percorre esse locus amoenus criado por Trương e observa sua coleção de artefatos colhidos, convém abrir os ouvidos para acolher uma orquestra espectral. O estalido de uma língua invisível? O gorjeio de pássaros desconhecidos? Gotas de água da chuva? Ou talvez os sussurros dos espíritos das montanhas. Inspirando-se na cosmogonia indígena das Terras Altas Centrais, onde exploradores da selva podem ser enfeitiçados e desviados por sons de entidades não humanas, o artista recria saberes ancestrais através de um convite sensorial: à medida que os visitantes se movem, sensores detectam a presença e emitem sons em resposta. Ao colocar a escuta como meio de conexão equivalente à visão, a instalação brinca com o conceito do encontro fortuito, em que os sons não apenas evocam a presença elusiva de seres fantasmagóricos, mas também despertam nossa imaginação primordial. Assim, a obra de Trương questiona a fixação contemporânea da humanidade no visual como método de percepção do mundo e sintoniza novamente nosso subconsciente com a presença espontânea e instigante dos sons.