A prática artística de Theresah Ankomah reivindica o saber artesanal tradicional não como herança estática, mas como prática dinâmica, hereditária e linguagem comunitária. A ressignificação é um tema central em sua obra, instaurando um diálogo constante que se manifesta tanto em suas pinturas quanto em suas instalações imersivas. Seu uso do kenaf para a produção de cestos de cebola – itens outrora essenciais nos mercados de Gana – chama atenção para o cenário geopolítico em que o artesanato tradicional é ofuscado pela chegada de bens produzidos em massa.
No centro de suas instalações mais recentes está o uso de folhas de palmeira provenientes de Dabala, na Região do Volta, em Gana. Elas são tingidas por meio de um processo colaborativo com famílias especializadas no tratamento e tingimento desse material. Essas colaborações são vitais para sua prática, não apenas por sua contribuição técnica, mas também pela sabedoria que carregam. Por meio dessas trocas intergeracionais, Ankomah reconstrói a tecelagem como um ato tanto material quanto político, questionando o lugar do “artesanato” nas narrativas sobre comércio, geopolítica e capitalismo. Suspensas no espaço como tecidos drapeados ou peles arquitetônicas, suas instalações têxteis transformam formas domésticas em gestos monumentais. A folha de palmeira – humilde e abundante – torna-se um recipiente de memória ancestral, trabalho paciente e identidade coletiva. Ao mesmo tempo escultóricas e performáticas, essas obras desestabilizam as hierarquias que há muito separam as belas-artes do artesanato.
Na instalação What Do You See [O que você vê] (2025), no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, tiras de folhas de palmeira trançadas se derramam sobre a fachada modernista do edifício, evocando tanto um tecido protetor quanto uma fronteira efêmera. Tingida em tons que remetem à terra e ao sol, cada tira carrega as marcas das mãos – da artista e de suas colaboradoras em Dabala. Seu trabalho é um gesto para uma ecologia mais ampla, na qual arte, natureza e comunidade estão intimamente entrelaçadas. Partindo da noção de fragmentos – ou “detritos” – como ponto de partida conceitual, Ankomah apresenta uma instalação escultórica que aborda a mercantilização e a fragmentação de bens e corpos sob regimes pós-coloniais e os efeitos persistentes que ainda ecoam em nossos tempos contemporâneos.