Justin E. H. Smith, Stephen Menn (orgs.), Anton Wilhelm Amo’s Philosophical Dissertations on Mind and Body. Oxford: Oxford University Press, 2022.
Philosophies of Being, Perception, and Expressivity of Being [Filosofias do ser, da percepção e da expressividade do ser] é um projeto multidimensional do filósofo-artista-compositor Tanka Fonta, que integra um mural visual de grande escala, uma instalação sonora em três partes com três partituras orquestrais, leituras poéticas e um roteiro performático. Partindo das filosofias da humanidade e das variadas cosmologias das culturas humanas, Fonta apresenta o conceito de “perceptividade intercampos” – em que campos de percepção se sobrepõem nos âmbitos molecular, sonoro, intuitivo e filosófico. O Brasil é apresentado não como um cenário local, mas como um espelho da condição humana, convidando o público a uma reflexão poética e imersiva sobre a existência, as inteligências e a natureza expressiva do ser.
A dimensão sonora imersiva é central na obra, composta de três peças orquestrais organizadas em sete movimentos, gravadas pela Orquestra do Theatro São Pedro, em São Paulo, sob a regência do maestro Carlos Moreno. Apresentadas por meio de uma instalação com fones de ouvido em três estações de escuta, essas composições funcionam não apenas como acompanhamento, mas como componentes fundamentais da estrutura e da profundidade sensorial do projeto. Sua presença na 36a Bienal marca uma colaboração histórica e se alinha ao foco curatorial em formatos expandidos e encontros transdisciplinares.
O mural, embora concebido como parte do campo visual do projeto, emerge de dentro das estruturas já compostas – sonoras, poéticas e filosóficas. Não deve, portanto, ser descrito como uma obra estática ou finalizada, mas como uma linguagem visual viva e responsiva, que evolui a partir da escuta profunda e da ressonância conceitual. Estruturada em torno de seis constelações temáticas, a obra convida a uma experiência imersiva que encoraja a percepção para além dos constructos sociais e se envolve com a natureza sagrada de toda a existência. Esse ato de percepção ecoa os escritos do filósofo africano Anton Wilhelm Amo (1703-1759), que definiu o ato de sentir como “uma disposição do nosso corpo orgânico e vivo, por meio da qual o animal é afetado por coisas materiais e sensíveis que estão imediatamente disponíveis a ele”.1
A obra inclui ainda um roteiro de apresentação que dramatiza um diálogo entre inteligências humanas e vegetais, expandindo ainda mais o alcance poético, ecológico e filosófico do projeto. Esse roteiro integra a programação pública da Bienal, enquanto o projeto mais amplo foi formalmente convidado pela equipe de educação da Bienal a fazer parte de sua série de publicações educativas, distribuídas a escolas e instituições culturais.
Em vez de apresentar cosmologias ancestrais como referências fixas, Fonta as posiciona como correntes ressonantes dentro de um projeto planetário que busca articular a expressividade do ser por meio de processos contínuos de sentir, refletir, compor e tornar-se.