Suchitra Mattai é uma artista e contadora de histórias indo-caribenha radicada em Los Angeles. Navegando de forma poética entre as águas do Caribe e do oceano Índico, Mattai entrelaça materiais e camadas inesperadas que (re)configuram e criam fricções críticas a partir das histórias e práticas de seus antepassados da Índia e da Guiana, cujas narrativas sussurram nos cantos da história. Explorando a oralidade e os arquivos familiares sobre as migrações oceânicas, ela tensiona e questiona, a partir de seu legado ancestral, o período do trabalho colonial por contrato, que promoveu a imigração de comunidades asiáticas (principalmente da Índia e da China) como substitutas da mão de obra no Caribe após a “abolição” da escravidão.
Seu trabalho com materiais antigos e em desuso, por meio de práticas ancestrais como o bordado e a tecelagem em elementos têxteis associados ao cotidiano doméstico, transforma-se em um ritual que estabelece um diálogo entre tempos e espaços com suas criadoras originais e com as épocas em que esses objetos ainda tinham valor. Assim, ela ressignifica práticas e materiais antes considerados obsoletos.
Esse ritual se torna um ato de reivindicação, empoderamento e resistência, honrando o trabalho árduo e resiliente das mulheres. Um gesto que acolhe outras possibilidades, distantes das lógicas ocidentais que monopolizam o discurso sobre questões contemporâneas de gênero e trabalho, abrindo assim um espaço equitativo de celebração e cura, tanto coletivo quanto individual.
É a partir dessas possibilidades que Mattai tece um universo ideal, onde se inserem outras consciências radicais: aquelas que se (re)escrevem como revoluções “silenciosas”, próprias das outras histórias do Caribe. Histórias que não se afogam, mas flutuam sobre as águas, alcançam as margens e narram múltiplas experiências a partir de outras cosmogonias, de modos de vida de mulheres e pessoas racializadas. Como mulher indo-caribenha, Suchitra Mattai as prestigia diretamente.