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6 set 2025–11 jan 2026
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Ruth Ige

Ruth Ige

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

 

O tempo não se comporta de forma comedida na obra de Ruth Ige. Ele é suspenso, dobrado e acumulado. Nessa lógica de estuário, o tempo torna-se um meio de coexistência, um corpo ouvinte no qual convergem memória, mito e ser especulativo. Suas figuras, encapuzadas e sem rosto, não se oferecem ao reconhecimento. Elas permanecem contidas, míticas, suavemente monumentais. O que emerge não é um retrato, mas uma presença – uma forma de ser que detém seu próprio poder.

Ige aprofunda essa visão por meio do uso de materiais com ressonância cultural: pó de baobá, índigo, folhas secas nigerianas, argilas brasileiras, espirulina azul. Não se trata de adornos estéticos, mas de agentes de memória e conhecimento – conectando práticas culturais iorubás e igbos com a vida diaspórica no Brasil, em Aotearoa e em várias partes do mundo. Suas telas operam como estuários antropológicos, contendo heranças ecológicas, espirituais e ancestrais em seu próprio pigmento. As pinturas assumem uma qualidade lenta e sedimentar – como se fossem formadas ao longo do tempo, em vez de feitas de uma só vez. Seu engajamento com o cânone da história da arte não consiste em uma recusa, mas em uma reconfiguração. A prática do retrato, se permanece alguma, é remodelada por meio da abstração e da especulação imaginativa, oferecendo outras maneiras de conhecer e recordar.

Formalmente, as obras se estendem para além do chassi. Algumas pairam no ar, outras vão até o chão ou se desdobram em estruturas imersivas. Uma convida o espectador a caminhar pelas laterais de uma vasta tela, semelhantes a cortinas, entrando no que parece ser um portal do tempo. Cada decisão espacial brinca com a pintura como um lugar de criação de mundos, ecoando formas têxteis, transmissões imateriais e futuros imaginados. As obras não direcionam o espectador tanto quanto o envolvem – limiares suaves entre reinos, nos quais a orientação se afrouxa e o tempo linear se dissolve. O espectador se torna um visitante em um mundo já em movimento. O tempo, nesse espaço, é cíclico – uma força ativa que retém, lembra e transforma. Ancestrais, espíritos, mortais e seres futuros coexistem nos mundos pintados por Ige – não como sujeitos a serem vistos, mas como agentes de algo maior, mantido em movimento silencioso.

 

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian
Várias telas suspensas do teto e dispostas sobre o chão, em tons de azul escuro, azul claro, preto e branco, retratando paisagens e figuras femininas sem rosto.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Telas suspensas do teto, em tons de azul escuro, azul claro, preto e branco, a tela ao centro possui panos também azuis pendurados nas laterais.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Telas suspensas do teto, em tons de azul escuro, azul claro, preto e branco, a tela ao centro possui panos também azuis pendurados nas laterais.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Várias telas suspensas do teto e dispostas sobre o chão, em tons de azul escuro, azul claro, preto e branco.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Tela suspensa do teto. As cores predominantes são azul escuro, azul claro, preto e branco.
Vista de obra de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Telas suspensas do teto. As cores predominantes são azul escuro, azul claro, preto e branco, retratando figuras femininas sem rosto.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Telas suspensas do teto em tons de azul escuro, azul claro, preto e branco, retratando paisagens e figuras femininas sem rosto.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Detalhe de tela pintada em azul escuro, azul claro, branco e preto.
Detalhe de obra de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Detalhe de tela pintada em azul escuro, azul claro, branco e preto.
Detalhe de obra de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Várias telas suspensas do teto e dispostas sobre o chão, em tons de azul escuro, azul claro, preto e detalhes amarelados, retratando paisagens e figuras femininas sem rosto.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Várias telas suspensas do teto, em tons de azul escuro, azul claro, preto e detalhes amarelados, retratando paisagens e figuras femininas sem rosto.
Vista de obras de Ruth Ige durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande tela suspensa do teto, em tons de azul escuro, azul claro, preto e detalhes amarelados, com panos também azuis pendurados nas laterais.
Vista de obras de Ruth Ige, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Ruth Ige (Ilé-Ifẹ̀, 1992. Vive em Auckland) é artista visual cuja prática reflete sobre identidade, espiritualidade e futuros possíveis através da representação do corpo negro. Inspirando-se na estética da cultura nigeriana, suas pinturas misturam elementos tradicionais, contemporâneos e futuristas, criando figuras enigmáticas em espaços simbólicos. Formou-se em artes visuais pela Auckland University of Technology e teve sua obra exibida na City Gallery (Wellington) e, em Auckland, na Te Wai Ngutu Kākā gallery, Auckland Art Gallery, e Artspace Aotearoa.

Esta participação tem apoio de Creative New Zealand.