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6 set 2025–11 jan 2026
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Rebeca Carapiá

Rebeca Carapiá

Mateus Nunes

 

Para as obras expostas na 36a Bienal de São Paulo, Rebeca Carapiá debruçou-se sobre o estudo da palmeira-andante – também conhecida como paxiúba ou por seu nome científico, Socratea exorrhiza. Essa árvore, presente na bacia do rio Amazonas e na América Central, tem robustas e emaranhadas raízes aéreas que não ficam soterradas, mas expostas sobre a terra, e que, com o tempo, movimentam-se. Elas crescem em direção ao sol e à procura de água e nutrientes, enquanto as raízes que permanecem na sombra apodrecem, morrem e servem de matéria orgânica para a geração de novas tramas. Com significativa imponência visual, a árvore expande suas ramificações pelo espaço e nos instiga a pensar sobre fundações ancestrais que se transformam dinamicamente com o tempo, corporificando resiliência e fundações móveis através de intricada geometria.

Os desenhos de suas raízes também se conectam com as formas características da prática de Carapiá, que se concentra na formação e na expansão de linguagens, em que composições abstratas são feitas com cobre, ferro e solda. Suas linhas sinuosas ensaiam e perpetuam trajetos, deambulações e caminhadas, materializando a síntese de uma existência em movimento – e da própria andança como metodologia artística, epistêmica e de vida. Evidenciando diálogos usualmente negligenciados, como as percepções sensíveis, a compreensão espelhada e movimentada do presente e o domínio de materiais frequentemente atrelados à masculinidade violentadora, Carapiá enfatiza uma pulsão desejante e libertadora da criação de um corpo filosófico – ou de dotar uma entidade de corpo em pura linguagem.

A artista apresenta suas esculturas como celebrações das etapas que as formaram, desde a produção coletiva e compartilhada até a superação de desafios técnicos e de obstáculos sócio-históricos. Elas acentuam a oscilação ambivalente de, ao mesmo tempo, abrirem-se em floreios e retraírem-se na síntese formal, preencherem o espaço e incorporarem seus vazios, ensaiarem uma leveza de movimento apesar do peso matérico incontornável, ou mesmo habitarem uma zona integradora entre desenho, escultura e instalação – ou entre monumento e filigrana. Carapiá convida a compreender que não há contradição entre estar afincada no chão ancestral e alçar voo.

Mateus Nunes

Rebeca Carapiá (Salvador, 1988) é artista e pesquisadora interessada nas relações entre linguagem, encontro, conflito, geografia e suas narrativas. Sua pesquisa, desenvolvida em diversas plataformas, aborda memória, racismo ambiental, economias da precariedade, tecnologias ancestrais e dissidências. Trabalha a escrita cotidiana como prática de criação e teve texto incluído no livro Textes à lire à voix haute (Brook, Paris, 2022), além de publicar o livro de artista Dois meses de permanência (Residência Ybytu, São Paulo, 2023). Participou de exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca de São Paulo, Instituto Inhotim (Brumadinho), Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador), Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro) e Lunds Konsthall (Lund).