A artista e arquiteta Raukura Turei iniciou sua trajetória expositiva em 2016, ganhando destaque com a mostra The Earth Looks Upon Us: Ko Papatūānuku te matua o te tangata [A Terra nos contempla], com curadoria de Tina Barton, na Adam Art Gallery Te Pātaka Toi, Wellington, em 2018. Para essa exposição, Turei criou Te poho o Hine-Ruhi (2018), usando argila, tinta acrílica e água sobre impressão digital. Obra monumental de 10 × 4 m, não só revelava seu profundo engajamento com o whenua (pigmento terrestre), como também afirmava a escala grandiosa como elemento fundamental de sua prática.
Te Ara Uwha, o caminho do sagrado feminino, representa quatro divindades femininas Māori por meio de pinturas em whenua. A partir do Te Ao Māori, o mundo e a cosmovisão Māori, a artista evoca o significado, o mana (prestígio) e o poder das deusas para materializar suas obras. Central nessa cosmologia está a separação entre Papatūānuku, a Mãe Terra e suprema divindade matriarcal, e seu amante Ranginui, a divindade celestial patriarcal. Dessa separação emergiu Te Ao Mārama, o mundo da luz, narrativa de criação compartilhada por diversas culturas oceânicas como origem da existência humana.
Como escreve Turei: “Os Māori têm um provérbio: ‘ko au te whenua, ko te whenua ko au’ [‘Eu sou a terra e a terra sou eu’]. Nossa genealogia remonta a Papatūānuku, a Mãe Terra, e Ranginui, o Pai Céu, cujos incontáveis filhos personificam cada elemento do mundo natural, e cuja essência está impressa em nosso ser, em nosso DNA”. Kurawaka, a região púbica de Papatūānuku e onde a primeira mulher foi criada, é uma terra vermelha sagrada chamada kōkōwai. Na instalação da artista, quatro divindades são representadas por pinturas em grande escala apoiadas por finos pou (postes verticais). Essas obras encarnam: Papatūānuku/Kurawaka; Hineahuone, a primeira mulher formada da terra vermelha de Kurawaka; Hinetītama, filha de Hineahuone, que por fim se transforma em Hine-nui-te-pō, deusa da morte e guardiã do submundo.
Vistas ou imaginadas de cima, as obras revelam o padrão Pouhine, desenho têxtil que representa a inversão do Poutama, uma forma tradicionalmente masculina. O Pouhine, estrutura que evoca um receptáculo, homenageia o whare tangata, o útero. Essa configuração traça a linhagem da luz às trevas, do reino dos vivos ao domínio espiritual, onde Hine-nui-te-pō acolhe seus filhos e os guia até Hawaiki, terra ancestral e espiritual dos Māori e povos oceânicos que compartilham esta whakapapa [genealogia].