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6 set 2025–11 jan 2026
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Nzante Spee

Nzante Spee

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

 

Conhecido principalmente por suas obras sobre tela, Nzante Spee (1953-2005) foi um artista cuja prática estava profundamente enraizada nas urgências políticas das condições humanas e mais-que-humanas. Vindo do noroeste dos Camarões, Spee narrou histórias por meio do uso dinâmico de cores, composições ousadas e simbolismos complexos, muitas vezes retratados em um cenário surrealista no qual corpos humanos, plantas, formas geométricas e padrões são fragmentados, tornados abstratos, reconfigurados e transformados em algo novo. Ao longo de sua jornada artística, Spee conjugou universos diferentes e desenvolveu uma linguagem visual única, que ele chamou de Melting Age [Era da fusão]. O termo pode ser entendido como uma referência ao modo como vários mundos entram em contato entre si e à capacidade que o tempo tem de testemunhar as resultantes e múltiplas formas de habitar esses mundos.

Na 36ª Bienal de São Paulo, são apresentadas obras produzidas na última década do século 20, que utilizam acrílica ou óleo sobre tela e têm como temas mais recorrentes ecologia, natureza e música. Em obras como The Woodcutter – The Destruction of our Environment Gently Destroys Us Like Every Cigarette We Smoke [O lenhador – a destruição do nosso meio ambiente nos destrói suavemente como cada cigarro que fumamos] (1995), The Wahdoosee Question [A questão Wahdoosee] (1994), David and Goliath [Davi e Golias] (1995) e Le Paradis des antilopes [O paraíso dos antílopes] (1994), o artista chama nossa atenção para a relação complexa entre humanidade e natureza e para o impacto que ações nefastas do ser humano, como o desmatamento, têm no meio ambiente e, consequentemente, em todos os seres vivos. Outras obras, como Echoes of Music [Ecos de música] (1994), Music Trio Band [Trio de música] (1995) e The Drummer and the Dancers [O baterista e os dançarinos] (1995), testemunham a paixão de Spee pela música. Realizadas em seu estilo característico de abstração simbolista e surrealista, as cenas retratadas nessas telas remetem às sessões noturnas em espaços locais como bares, casas noturnas ou “circuitos”, como são comumente chamados no inglês pidgin. Trata-se de um reconhecimento desses espaços como vetores e componentes importantes que formam o tecido de várias sociedades, apontando para o desejo do artista de conciliar a arte com vários aspectos da vida, pois “Arte é vida… política é arte, dinheiro é arte e muitas outras coisas o são. Até bruxaria é arte”, como afirmou Nzante Spee.

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

Nzante Spee (1953, Mbem–2005, Stockton) foi um artista, pintor, cantor e músico cuja obra revela influências do cubismo e do surrealismo. Seu trabalho visual culmina em um universo pictórico no qual essas expressões se misturam na estética que chamou de “melting age” (era do derretimento). Estudou artes na Nigéria e na Costa do Marfim entre 1976 e 1982. Fundou o Spee Art Center em Bamenda, um ateliê e centro de formação que influenciou novas gerações de artistas. Participou de exposições internacionais, como o Festival Internacional das Francofonias (Limoges) e mostras em Bordeaux e Yaoundé.