Nguyễn Trinh Thi trabalha com filme, mas constantemente questiona e resiste às estruturas impostas pela imagem e pela câmera. Em um mundo globalizado onde a cultura ocidentalizada domina visualmente, ela busca uma abordagem mais sensível para perceber o mundo, dando atenção especial às paisagens sonoras. Foi assim que desenvolveu seu interesse pelo trabalho com som, focando na escuta.
Em suas obras mais recentes – And They Die a Natural Death [E elas morrem uma morte natural] (2022), apresentada na documenta 15, e Ri s̄eīyng’ [Sem som] (2023), na 3ª Bienal da Tailândia –, ela criou ambientes abertos ao invisível, permitindo que forças imprevisíveis, humanas e não humanas, adentrem, produzam sons e, sobretudo, escutem. Em Ri s̄eīyng’, essa estrutura se materializou em uma série de instrumentos automatizados, ativados por sinais codificados a partir do fluxo das águas do rio Mekong. Guiados por dados em tempo real, os sons gerados pelos instrumentos variavam, exigindo que o público estivesse plenamente presente para experienciar a obra.
Nos sons, é possível perceber uma pluralidade de diálogos entre o humano e o não humano. Para a 36ª Bienal de São Paulo, a artista retomou a estrutura funcional e o potencial sonoro desses instrumentos, transcendendo fronteiras culturais ao incorporar uma variedade de dispositivos automatizados, alguns do Vietnã, outros encontrados localmente. A paisagem sonora, composta por Nguyễn com influências da música do Leste Asiático, está em constante mutação, sendo aleatorizada, interrompida ou silenciada conforme interage com movimentos e vozes no espaço, ou com a intensidade da luz solar na sala, projetada como uma câmera obscura gigante. Ao detectar movimento ou uma voz humana, os instrumentos param de tocar, resultando em silêncio até que a calma seja restaurada. Assim como na floresta, a paisagem sonora de pássaros, animais e espíritos só se revela por completo quando estamos em escuta atenta.