Em suas esculturas, Nádia Taquary evoca o poder feminino por meio da fundição do bronze. Ao transmutar o metal e moldá-lo, a artista imprime um refinamento técnico que remete à suntuosa produção milenar africana. Sua obra ressignifica tradições de matrizes africanas, trazendo à tona tecnologias, narrativas e estéticas que foram historicamente ignoradas ou apropriadas pelo Ocidente.
A partir de seus estudos sobre a joalheria afro-brasileira, Taquary mergulha na história ancestral, religiosa e afro-feminina. As joias, como as pencas de balangandãs que adornavam as cinturas de mulheres negras no período escravagista, são símbolos de força e poder. Ao expandi-las para o tridimensional, a artista desconstrói narrativas impostas pelo colonialismo e pela própria história da arte.
Na instalação Ìrókó: A árvore cósmica (2025), criada para a 36ª Bienal de São Paulo, a artista aprofunda sua relação com os materiais e com a forja do bronze. Utilizando fibra de vidro, esculturas em bronze representando as Ìyámis (entidades femininas ancestrais) e fios de contas nas cores da divindade Ìrókó, a obra evoca o conhecimento ancestral por meio do ciclo da vida. Ìrókó, orixá senhor do tempo e da ancestralidade, passou a ser cultuado no Brasil por meio da gameleira – árvore presente nos terreiros de religiões de matriz africana, sinalizada por uma bandeira branca. Ìrókó é o antídoto para os males, a calma após a tempestade, a inevitabilidade da vida. Foi a primeira árvore plantada e, segundo a tradição, foi por ela que os orixás desceram à Terra, e sobre ela pousaram as feiticeiras Ìyámis.