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6 set 2025–11 jan 2026
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Myriam Omar Awadi

Myriam Omar Awadi

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Mariana Nacif Mendes e Nicolas Brandão

 

Guiada pelo corpus poético “Les Feux que vos derniers souffles ravivent” [As chamas que os seus últimos suspiros reacendem], a obra de Myriam Omar Awadi The Smell of Earth After Fire and the Promise of Breaths: For the Obsession With Resonance Spreading Tenderly Our Skin/ Our Bodies O/ From the Incandescent Warmth of the Ashes [O cheiro da terra após o fogo e a promessa de respiros: pela obsessão com a ressonância espalhando ternamente nossa pele / Nossos corpos O / Do calor incandescente das cinzas] invoca uma cartografia de respirações, tecidos e presença ancestral. Em seu centro estão vários shiromani, tecidos tradicionais de Comores obtidos nas memórias espirituais de Koko [avó].

Esses tecidos formam um terreno visual e sônico que oscila entre a ocultação e a revelação. Suspenso dentro de um arranjo de microfones e alto-falantes em forma de árvores – evocando as raízes emaranhadas dos manguezais –, o tecido pende dos galhos oscilantes dessas formas invisíveis. A instalação escultural e sônica evoca a epifania de uma floresta de mangue, com todas as esculturas feitas de madeira. Com base no Debe, uma tradição ritual das ilhas Comores liderada por mulheres, Omar Awadi invoca o bordado não apenas como adorno, mas como uma forma de pontuação – uma maneira de manter o que não pode ser dito. Cada shiromani se torna tanto um objeto ritual quanto um arquivo cultural, carregando a memória por meio de suas dobras, texturas e repetições. Eles retêm não apenas a ressonância pessoal, mas a gravidade do pertencimento coletivo.

Concebida em Comores, Mumbai e São Paulo, La Réunion [A reunião] (2025) se desenvolve por meio de redes de cuidados, estendidas pelos continentes, mas ancoradas na colaboração. Os bordados são produzidos em Mumbai em parceria com artesãos que confeccionam cada tecido com cuidadosa atenção. Em São Paulo, bases esculturais de madeira são fabricadas para servir tanto como âncoras quanto como arquitetura acústica. Cada elemento entra em diálogo com o trabalho minucioso desses artesãos, a luz e o som, moldados durante os ensaios com artistas – cada um deles emparelhado com um único shiromani. Esses artistas são guiados pela presença, não pelo espetáculo. Seus movimentos são mínimos, sintonizados com a textura, o peso e a respiração. As partituras são escritas não para o palco, mas para a relação – ensaiadas em repetição, luz e audição. A performance se torna um ato compartilhado de orientação e retorno, em que o significado se acumula lentamente por meio do contato e da proximidade.

Nesse trabalho, os shiromani funcionam como colaboradores ativos. Bordados e suspensos, cada tecido se torna tanto uma testemunha quanto uma partitura. Suas superfícies cintilantes captam e refletem a luz, evocando a vida e o invisível: olhos observando, memórias vibrando e a energia entrelaçada entre aqueles presentes e aqueles que estão além. O movimento é guiado pela sintonia e não pela coreografia, permitindo que cada artista crie um relacionamento com o espírito do tecido que lhe foi designado. Por meio desse processo, o ritual e a performance são alinhados. Os shiromani carregam as memórias da obra – assim como nossos corpos O, suas vozes, suas formas e seus próprios saberes.

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Mariana Nacif Mendes e Nicolas Brandão

Myriam Omar Awadi (1983, Paris. Vive em Le Tampon, Reunião) é artista franco-comorense. Sua obra dá voz a narrativas muitas vezes inaudíveis, buscando as centelhas reacendidas por seus últimos suspiros. Milhões de almas e espécies, moldadas em madeira, argila, vidro, bordado, lantejoulas cintilantes e água do mar gotejam sobre microfones e despertam de suas extinções premeditadas pelo suor de nossa escuta desviante. Elas contam histórias para jardins, embalam o suprematismo mórbido e cantam uma política dissolvida nos humores líquidos do amor. Seu trabalho foi exibido na 12ª edição do Bamako Encounters, no Palais de Tokyo (Paris), no Zeitz MOCAA (Cidade do Cabo) e na Bienal de Kochi-Muziris 2023 (Kochi). Cofundou o laboratório Parole Parole e o espaço artístico independente La Box, ambos em Reunião.

Esta participação tem apoio do Institut français através do programa IF Incontournable.

 

Produção: Tati Mayumi, Carolina Canteli e Iolanda Sinatra
Registro sonoro e edição: Rena Landgraf
Desenho de luz: Anna Turra
Esculturas: Zang – Artesania Industriosa
Performers: Julia Lacerda, Alzira E, Bella Amaral, Keithy Alves, Dessa Ferreira, Arícia Mess, ⁠PH Veríssima e Raquel Dos Santos

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