entrada gratuita
6 set 2025–11 jan 2026
Newsletter
Newsletter

I Gusti Ayu Kadek Murniasih (Murni)

I Gusti Ayu Kadek Murniasih (Murni)

Morad Montazami
Traduzido do inglês por Mariana Nacif Mendes e Nicolas Brandão

 

Nascida em Tabanan, Bali, a artista balinesa/indonésia Murni (1966-2006) alcançou reconhecimento internacional recentemente. Estudou pintura com o artista I Dewa Putu Mokoh, com base na tradição local. Originária do vilarejo de Pengosekan, localizado próximo a Ubud, em Bali, essa arte visual narrativa baseia-se em histórias antigas – de textos sagrados hindus e budistas ao antigo folclore balinês e javanês. As pinturas de Pengosekan são caracterizadas pelo uso de cores vibrantes e composições abundantes, condensando cenas da vida cotidiana, ornamentação da fauna e da flora e representações de divindades mitológicas.

A maneira como Murni adotou os códigos da pintura de Pengosekan para melhor se emancipar deles próprios, subvertendo progressivamente a tradição em seu estilo pessoal, desde o início da década de 1990 – com um toque minimalista, bem-humorado e irônico –, é notável. Especialmente se levarmos em conta como ela se tornou uma figura proeminente da arte balinesa/indonésia, ainda mais sendo uma mulher que traçou um caminho independente. De 1995 em diante, a artista participou de diversas exposições coletivas na Indonésia e internacionalmente (Austrália, Itália, Hong Kong…), revelando, nelas, composições impressionantes que tratam da identidade, experiência e traumas femininos, combatendo muitos dos tabus de uma sociedade patriarcal. De fato, o sofrimento íntimo de Murni não deve ser ignorado quando confrontado com suas figuras aparentemente eróticas e, até certo ponto, sadomasoquistas – pelo menos no que diz respeito a suas imagens sexuais muito explícitas –, pois ela foi vítima de estupro pelo próprio pai quando tinha nove anos de idade.

Embora muitas vezes interpretado erroneamente como uma arte naïf ou outsider, seu simbolismo sexual muito contundente (reunindo falo, vagina e orifícios em combinações extravagantes e múltiplas) com cores saturadas e, às vezes, brilhantes prova ser um espaço de exorcismo subjetivo e resiliência; para superar o trauma do passado e reivindicar o direito à existência, apesar do sofrimento íntimo. Os objetos que ela introduz em suas pinturas, muitas vezes vistos como uma ameaça à integridade dos corpos distorcidos – como tesouras, saltos altos etc. –, também aparecem como ferramentas de transformação e capacitação. Ao desafiar o papel e a posição das mulheres no contexto da arte asiática, Murni fez de seu trabalho não apenas uma batalha e terapia pessoais, mas também um caminho feminista destemido para a nova geração de artistas balineses que a seguiram, como Imhathai Suwatthanasilp, Citra Sasmita, entre outros.

Morad Montazami
Traduzido do inglês por Mariana Nacif Mendes e Nicolas Brandão

Murni (1966, Tabanan,– 2006, Ubud) foi uma artista autodidata que aperfeiçoou sua prática na Seniwati Gallery of Art by Women e sob a orientação do pintor I Dewa Putu Mokoh. Inicialmente formada no estilo Pengosekan, subverteu suas convenções para criar uma linguagem visual marcada por contornos simples e fundos monocromáticos. Sua obra explora temas como identidade feminina, desejo e trauma, reivindicando a agência do corpo com formas cruas e instintivas. Considerada “imoral” à época, hoje é reconhecida por transformar o discurso sobre a experiência feminina na arte contemporânea indonésia. Murni expôs na National Gallery of Australia (Canberra), na National Gallery Singapore e no Carnegie Museum of Art (Pittsburgh), entre outros.

Conteúdos relacionados