Mohamed Melehi (1936-2020) é tido como uma figura importante da arte pós-colonial marroquina e da história do modernismo no Sul Global. Artista multifacetado, pintor, fotógrafo, muralista, designer gráfico e urbano, professor de arte e ativista cultural, lecionou na Escola de Arte de Casablanca durante o período mais radical do instituto, entre 1964 e 1969.
Na arte de Melehi, pode-se sentir o espírito da revolução estética e a exaltação do Marrocos pós-independência, que atravessam a evolução de seu trabalho na década de 1960: das experiências com a abstração em Roma e Nova York até a plena maturação da onda, seu motivo característico, durante a década de 1970 (ele participou da exposição Hard Edge and Geometric Painting [Pintura hard edge e geométrica] do MoMA, em Nova York, em 1963).
Como se pode ver na obra Composition (1970), o processo, ancorado na criação de padrões coloridos, ressoa nos seus murais ao ar livre, especialmente aqueles feitos para o Festival Cultural Moussem de Asilah (norte do Marrocos) a partir de 1978 – onde Melehi coorganizou uma rede artística e um evento tricontinental marcante, um festival organizado até hoje durante o verão.
A arte de Melehi resiste à divisão entre Oriente e Ocidente que se desenvolveu durante o período da Guerra Fria. Os seus afrescos ondulados levam-nos a uma viagem cosmopolita, unindo o Mediterrâneo e o Atlântico. O seu diálogo com o Ocidente equilibra-se com a paixão por tapetes e joalheria populares Amazigh (que podem ser encontrados em todo o deserto do Saara, tanto nas tradições berberes como tuaregues). Trata-se de uma relação profunda com a arte e o artesanato locais, nos quais essas combinações de padrões (entre linhas retas e onduladas, formas abstratas e figurativas, símbolos femininos e masculinos) podem ser encontradas, fato documentado pelas obras fotográficas de Melehi.
Melehi desempenhou um papel influente no Marrocos no desenvolvimento da pedagogia artística e das práticas experimentais locais. Durante a década de 1960, ao lado de Farid Belkahia, Mohammed Chabâa, Toni Maraini e Bert Flint, participou de um momento decisivo na educação artística desenvolvida no país – conhecida como Escola de Arte de Casablanca.
Como designer gráfico e fotógrafo, Melehi ajudou a moldar a cultura visual das lutas políticas em todo o Magrebe e das redes artísticas pan-árabes. O seu trabalho de design gráfico e edição para o grupo Casablanca e para revistas de vanguarda como Souffles (1966-1969) e Integral (1971-1978) são os melhores exemplos disso.
Em 1987, Mohamed Melehi, ao lado de Farid Belkahia, Mohammed Kacimi, Fouad Bellamine e Abdelkebir Rabi, representou o Marrocos na 19ª Bienal de São Paulo.