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6 set 2025–11 jan 2026
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Michele Ciacciofera

Michele Ciacciofera

Mateus Nunes

 

Interessado nas múltiplas relações entre humanos e meio ambiente, Michele Ciacciofera investiga as reverberações dessas interações em sistemas mitológicos, históricos e culturais. Seu trabalho privilegia a experiência do sujeito observador, considerando as pluralidades inerentes a cada indivíduo e suas formas de interação com o universo.

O caráter ambientalista de sua prática é derivado das preocupações ecológicas desenvolvidas durante sua formação em ciência política e orienta seu interesse por técnicas construtivas tradicionais. Entre elas, destaca-se o Nurago (ou Nuraghe), uma tipologia arquitetônica megalítica característica da Sardenha, no sul da Itália, durante a Era Nurágica (1900-730 a.C.). O estudo aprofundado dessas tradições resulta em esculturas e instalações produzidas por Ciacciofera em colaboração com artistas locais. Em The Nest of the Eternal Present [O ninho do eterno presente] (2025), obra apresentada na 36ª Bienal de São Paulo, Ciacciofera emprega a técnica do pau a pique, um sistema construtivo que se vale de materiais locais, como argila, madeira e cascalho, em um processo artesanal entrelaçado por saberes indígenas, afrodiaspóricos e europeus e amplamente utilizado no período colonial brasileiro.

A instalação sonora foi concebida na forma de um concerto eletrônico multidimensional. Suas esculturas, protagonizadas pela cerâmica esmaltada e pelo papel machê, assumem morfologias híbridas e oníricas, evocando fusões entre humano, vegetal e animal. O som, elemento central da obra, é orquestrado pelo artista a partir da manipulação do canto de trinta espécies de pássaros, ampliando as possibilidades de diálogo entre ferramentas tecnológicas digitais e fenômenos naturais. As ondas sonoras acentuam a tridimensionalidade da instalação e convidam o observador a uma experiência imersiva enquanto transita entre figuras dispostas ao redor de um ninho circular de terra.

The Nest of the Eternal Present também evoca o poema persa “A conferência dos pássaros”, no qual aves atravessam vales místicos em busca de autoconhecimento coletivo, ao mesmo tempo que dialoga com a descoberta de ninhos fossilizados de titanossauros em Minas Gerais, estabelecendo uma continuidade simbólica entre passado pré-histórico, espiritualidade e um futuro ecológico em que humanos, animais e paisagens compartilham um destino interligado.

A instalação enfatiza a relevância da disposição espacial dos elementos escultóricos e suas inter-relações, evocando tanto a agremiação de formas megalíticas quanto a reunião de indivíduos em congregação espiritual. Ao ativar a potência contida no ato de congregar, Ciacciofera propõe a construção da moradia – e, no caso desta instalação, do ninho – como um exercício essencial de humanidade.

Mateus Nunes

Michele Ciacciofera (Nuoro, 1969. Vive em Paris) utiliza uma ampla variedade de abordagens, incluindo escultura, pintura, desenho, som, instalação, vídeo e teatro, combinando mídias e métodos em sua investigação sobre antropologia, natureza, história, mitologia, política e humanidade. Emprega materiais diversos como mesas antigas, tapeçarias, cerâmicas, fósseis, desenhos e favos de mel. Em 2021, o Musée d’Art Contemporain de Rochechouart, apresentou uma grande retrospectiva de sua obra. Seu trabalho foi exibido na 57ª Bienal de Veneza, documenta 14 (Kassel), Museo d’arte della Provincia di Nuoro, CAFA Art Museum (Beijing), Musée des Beaux-Arts de Rennes, Summerhall (Edimburgo) e no Irish Museum of Modern Art (Dublin).

Esta participação tem apoio do Institut français através do programa IF Incontournable e Istituto Italiano di Cultura di San Paolo.

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