entrada gratuita
6 set 2025–11 jan 2026
Newsletter
Newsletter

Maxwell Alexandre

Maxwell Alexandre

Raquel Barreto

 

Maxwell Alexandre nasceu na Rocinha, uma das favelas mais populosas da América Latina, em uma família evangélica. Foi skatista de rua profissional por muitos anos e também serviu no exército. Teve contato com a arte durante sua graduação em design na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, logo depois, ingressou no circuito artístico, tornando-se um dos artistas jovens mais proeminentes da arte contemporânea brasileira.

A prática de Maxwell Alexandre por vezes subverte os limites tradicionais da pintura ocidental, algo evidente em sua escolha do papel pardo – frequentemente considerado rudimentar – como principal suporte de trabalho, “enobrecido” por seu gesto. Essa escolha engaja-se politicamente com a polissemia do conceito de “pardo” no Brasil. Suas composições pictóricas enfatizam imagens de personagens negros, reais e imaginários, marcados por sinais de poder e orgulho, visíveis na postura corporal e nas vestimentas – sem deixar de apontar que esses mesmos corpos são alvo de perseguição estatal e violência policial. Com a série Novo poder, o artista ensaiou uma ocupação majoritariamente negra do cubo branco de museus e galerias, espaços dos quais essas presenças foram historicamente excluídas. Ele também se inspira, no seu trabalho, na poesia do rap nacional. Nomes como Djonga, Baco Exu do Blues e BK fazem parte do seu repertório.

Maxwell Alexandre subverte os circuitos institucionais de distribuição e apresenta suas obras em espaços que a arte contemporânea normalmente não alcança – sua própria comunidade, a Rocinha, entre outros. Foi o caso da instalação Encruzilhada (2021), apresentada inicialmente no Paço Imperial e posteriormente no Morro do Santo Amaro, ambos no Rio de Janeiro, onde a obra assumiu uma nova ordem e ativação a partir da comunidade local.

Para a 36ª Bienal de São Paulo, o artista apresenta a instalação Galeria 2 (2025), da série Cubo branco, mais uma vez utilizando a polissemia como elemento conceitual que nomeia a obra e propõe uma reflexão sobre uma das ideologias mais poderosas da história da arte ocidental. A obra não é apenas uma instalação, mas um diálogo contínuo com as próprias estruturas que por tanto tempo governaram a narrativa da arte. Para aprofundar essa reflexão, o artista introduz uma pintura conceitual – uma moldura dourada vazia sobre papel pardo – colocada dentro do espaço climatizado normalmente reservado a obras históricas. As molduras que pinta sobre papel e os cubos brancos que constrói abrem espaço dentro da linhagem da história da arte que tradicionalmente representou o belo. A prática de Alexandre redefine o belo como uma força radical – uma que desafia normas históricas e confronta a violência histórica do apagamento na história da arte.

Raquel Barreto

Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990. Vive no Rio de Janeiro) nasceu e cresceu na favela da Rocinha, uma das maiores do Rio de Janeiro. Considera suas obras orações e seu ateliê um templo. De formação evangélica, foi militar e patinador profissional de street por doze anos antes de se formar em design pela PUC-Rio, em 2016. Reconhecido pela Arquidiocese do Rio com o Prêmio São Sebastião de Cultura em 2018, recebeu distinções como o Prêmio PIPA, integrou a seleção de Artistas do Ano pelo Deutsche Bank em 2020, e foi eleito Homem do Ano na Cultura pela revista GQ Brasil em 2023. Sua obra integra coleções públicas como Pinacoteca de São Paulo, MASP, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio, Musée d’Art Contemporain de Lyon, Pérez Art Museum Miami, Guggenheim Abu Dhabi e Museo Reina Sofía (Madri).