Maxwell Alexandre nasceu na Rocinha, uma das favelas mais populosas da América Latina, em uma família evangélica. Foi skatista de rua profissional por muitos anos e também serviu no exército. Teve contato com a arte durante sua graduação em design na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, logo depois, ingressou no circuito artístico, tornando-se um dos artistas jovens mais proeminentes da arte contemporânea brasileira.
A prática de Maxwell Alexandre por vezes subverte os limites tradicionais da pintura ocidental, algo evidente em sua escolha do papel pardo – frequentemente considerado rudimentar – como principal suporte de trabalho, “enobrecido” por seu gesto. Essa escolha engaja-se politicamente com a polissemia do conceito de “pardo” no Brasil. Suas composições pictóricas enfatizam imagens de personagens negros, reais e imaginários, marcados por sinais de poder e orgulho, visíveis na postura corporal e nas vestimentas – sem deixar de apontar que esses mesmos corpos são alvo de perseguição estatal e violência policial. Com a série Novo poder, o artista ensaiou uma ocupação majoritariamente negra do cubo branco de museus e galerias, espaços dos quais essas presenças foram historicamente excluídas. Ele também se inspira, no seu trabalho, na poesia do rap nacional. Nomes como Djonga, Baco Exu do Blues e BK fazem parte do seu repertório.
Maxwell Alexandre subverte os circuitos institucionais de distribuição e apresenta suas obras em espaços que a arte contemporânea normalmente não alcança – sua própria comunidade, a Rocinha, entre outros. Foi o caso da instalação Encruzilhada (2021), apresentada inicialmente no Paço Imperial e posteriormente no Morro do Santo Amaro, ambos no Rio de Janeiro, onde a obra assumiu uma nova ordem e ativação a partir da comunidade local.
Para a 36ª Bienal de São Paulo, o artista apresenta a instalação Galeria 2 (2025), da série Cubo branco, mais uma vez utilizando a polissemia como elemento conceitual que nomeia a obra e propõe uma reflexão sobre uma das ideologias mais poderosas da história da arte ocidental. A obra não é apenas uma instalação, mas um diálogo contínuo com as próprias estruturas que por tanto tempo governaram a narrativa da arte. Para aprofundar essa reflexão, o artista introduz uma pintura conceitual – uma moldura dourada vazia sobre papel pardo – colocada dentro do espaço climatizado normalmente reservado a obras históricas. As molduras que pinta sobre papel e os cubos brancos que constrói abrem espaço dentro da linhagem da história da arte que tradicionalmente representou o belo. A prática de Alexandre redefine o belo como uma força radical – uma que desafia normas históricas e confronta a violência histórica do apagamento na história da arte.