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6 set 2025–11 jan 2026
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Marlene Almeida

Marlene Almeida

Ariana Nuala

 

Marlene Almeida é uma artista cuja obra se constrói na interseção entre matéria e território. Nascida em Bananeiras, no Brejo paraibano, e formada em filosofia pela Universidade Federal da Paraíba, sua trajetória artística se estende por mais de cinquenta anos, impulsionada pela observação atenta das paisagens da Paraíba e de outras regiões. Seu trabalho combina arte, ciência e filosofia, desafiando os limites convencionais da prática artística e propondo uma reflexão sobre os ciclos da natureza e os vestígios do tempo.

Para a 36ª Bienal de São Paulo, Marlene apresenta Terra viva (2025), uma instalação que sintetiza décadas de pesquisa e criação. Dividida em duas vertentes complementares, a obra articula o rigor técnico e a potência poética. A dimensão técnica se manifesta em um espaço de estudos que exibe amostras de solos brasileiros, resinas vegetais, minerais, equipamentos laboratoriais e cadernos de campo. Já a poética se traduz em uma instalação composta de pinturas expandidas em têmpera fosca, aplicadas sobre faixas de algodão cru. Essas superfícies, penduradas no teto e prolongadas até as paredes, evocam as trilhas percorridas pela artista ao longo de suas investigações, incorporando rochas naturais que dialogam com as camadas cromáticas utilizadas.

A obra dá continuidade a trabalhos anteriores, como Terra-Devir (2024) e Vermelho como terra (2024), que reafirmam sua pesquisa sobre os processos de sedimentação, apagamento e permanência. Na instalação, Marlene trabalha com uma paleta que vai do branco do caulim puro aos tons profundos da hematita e da pirolusita, compondo uma cartela cromática que revela as variações geológicas do Brasil. O jogo de sombras projetado pelas faixas de tecido e pela iluminação reforça a passagem do tempo, funcionando como um marcador visual que remete aos relógios de sol.

Para além de seu caráter estético e experimental, Terra viva carrega um pensamento político e ecológico. O trabalho questiona as noções de propriedade e extração, problematizando a relação entre território e exploração. A artista não apenas recolhe e transforma materiais naturais, mas propõe um diálogo no qual a terra não é um objeto inerte, e sim um organismo vivo, dotado de agência. Seu uso de pigmentos naturais e técnicas de baixo impacto ambiental reafirma um compromisso com a sustentabilidade e com modos de criação que respeitam os ciclos da natureza.

Marlene Almeida desafia as fronteiras entre arte e ciência, técnica e intuição, tradição e experimentação. Sua obra não apenas representa a terra, mas a escuta e a traduz, transformando sua materialidade em narrativa. Terra viva se inscreve como um testemunho daquilo que a terra guarda, revela e resiste a esquecer – um arquivo sensível no qual a passagem do tempo se faz visível, e onde a paisagem, em sua infinita transmutação, continua a contar suas histórias.

Ariana Nuala
Tiras de tecido esticadas do teto ao chão e bandejas de metal com pedras na ponta de cada tira.
Vista de Terra viva, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Tiras de tecido esticadas do teto ao chão e bandejas de metal com pedras na ponta de cada tira.
Vista de Terra viva, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Tiras de tecido esticadas do teto ao chão e bandejas de metal com pedras na ponta de cada tira.
Vista de Terra viva, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Prateleira com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Amostras de terra em recipientes de vidro
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Amostra de pedra em redoma de vidro
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Pedras em pratos de metal com tiras de tecido
Amostras de terra e pedra em recipientes de vidro
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Tiras de tecido esticadas do teto ao chão e bandejas de metal com pedras na ponta de cada tira.
Vista de Terra viva, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesa com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Detalhe de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Mesas e prateleiras com amostras de terra e pedras em recipientes de vidro
Vista de Museu das terras brasileiras, de Marlene Almeida, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Marlene Almeida (Bananeiras, 1942. Vive em João Pessoa) é pintora, restauradora de arte e filósofa. Desde os anos 1970, pesquisa pigmentos e aglutinantes naturais, tendo a terra como matéria, poética e base de lutas sociais e ecológicas. Mantém fidelidade aos ideais de um mundo mais justo, desde as Ligas Camponesas. Trabalha com pintura, escultura e instalações, entendendo a terra como suporte da arte-vida. Presidiu a Associação dos Artistas Plásticos Profissionais da Paraíba e ministrou cursos sobre pigmentos naturais no Festival Nacional das Mulheres nas Artes, no Festival de Verão de Petrópolis, no MAM Rio e na Fundação Espaço Cultural da Paraíba. Expôs no MASP, no MAC-USP e no Memorial da América Latina, em São Paulo, e na Fundação Espaço Cultural da Paraíba, em João Pessoa.