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6 set 2025–11 jan 2026
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Marcelo Evelin

Marcelo Evelin

Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

 

O ritmo começa baixo. Um toque na pele, um murmúrio de atrito, depois outro e mais outro. Aos poucos, surge um pulso coletivo sincopado, insistente, impossível de ignorar. Nas mãos de Marcelo Evelin, a batucada não é apenas ritmo. É um encontro, uma convocação, um chamado do corpo que se recusa ao silêncio. Tudo começa na escuridão do TAIB, o teatro subterrâneo da Casa do Povo, suas paredes ainda impregnadas de ecos passados, antes de transbordar para fora em um movimento ao mesmo tempo coreográfico e político. Esse ato inaugural abre o programa da 36a Bienal de São Paulo na Casa do Povo e reabre o TAIB com um gesto nada contido.

Natural de Teresina, Marcelo Evelin é um dos coreógrafos brasileiros com maior ressonância internacional. Seu trabalho entrelaça performance, ativismo e prática coletiva, partindo do corpo como território de inscrição social e resistência. Em Batucada, criada em 2014 e apresentada em diversos países, Evelin não propõe uma peça fixa, mas uma experiência viva: uma acumulação de ritmos, presenças e gestos que convergem para a desobediência.

Não há roteiro nem hierarquia. Batucada é uma partitura porosa, reativada a cada vez por cinquenta participantes locais. Os tambores, às vezes reais, às vezes simulados por mãos, pés, corpos, tornam-se armas de alegria e recusa. A performance cresce não pelo espetáculo, mas por contágio, convidando o público a ouvir não só com os ouvidos, mas com a respiração, com a proximidade do outro. O que começa como um ajuntamento de batidas na escuridão do teatro logo irrompe ao ar livre. Batucada rejeita o teatro como enclausuramento; a obra o propõe não como refúgio do mundo, mas como sua câmara de ressonância. A cidade não fica do outro lado da porta – é a continuação da performance, seu horizonte necessário.

Embora Evelin tenha realizado oficinas na Casa do Povo durante o processo de criação de Batucada há mais de uma década, a peça nunca havia sido apresentada em São Paulo até agora. Sua chegada é tanto retorno quanto ruptura. Inaugurar o programa desta Bienal com Batucada é um compromisso. Uma recusa a começar em silêncio. Nesse encontro entre Marcelo Evelin, a Casa do Povo e os corpos e ritmos de São Paulo, Batucada deixa de ser apenas uma performance para se tornar um recomeço.

Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

Marcelo Evelin (Teresina, 1962. Vive entre Teresina e Amsterdã) é coreógrafo, performer e pesquisador. Atua com a plataforma Demolition Incorporada e desenvolve projetos no CAMPO, espaço de residência e resistência em Teresina. Sua obra articula performance, ativismo e práticas coletivas, partindo do corpo como lugar de conflito e resistência. Em peças como Batucada (2014), propõe ações coreográficas em fluxo, construídas por ritmos, gestos e presenças que se acumulam em desobediência. Leciona desde 1999 na Escola de Artes de Amsterdã e colabora com instituições como ISAC (Bruxelas), Reina Sofia (Madri), EXERCE (Montpellier), CND (Paris) e DAS Choreography (Amsterdã). Entre seus trabalhos recentes estão Oco (2023), Ainda Não (2024), Device for Resonance (2024) e BANANADA, com estreia em 2026.

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