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6 set 2025–11 jan 2026
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Mansour Ciss Kanakassy

Mansour Ciss Kanakassy

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

 

Há mais de duas décadas, Mansour Ciss Kanakassy, artista senegalês que vive em Berlim, vem desenvolvendo um conceito artístico e intelectual chamado Laboratoire de Déberlinisation [Laboratório de Desberlinização] para questionar e transcender os limites mentais impostos ao continente africano e a seus povos durante a conferência de Berlim de 1884-1885. Com ênfase posta na necessidade de repensar identidade, migração e diversidade cultural, o Laboratório de Desberlinização tem, de forma continuada, defendido e facilitado diálogos e trocas entre diversas comunidades ao redor do globo.

Como resposta à proposta curatorial desta edição da Bienal de São Paulo, Mansour Ciss Kanakassy propôs uma obra multiformato intitulada Gondwana la fabrique du futur [Gondwana, a fábrica do futuro] (2025). O projeto toma seu nome do supercontinente Gondwana – às vezes referido como Gonduanalândia. Seguindo o exemplo do quilombismo, conceito filosófico desenvolvido por Abdias Nascimento, Gondwana la fabrique du futur é concebida como um lugar independente e emancipatório do discurso e da resistência, que fortalece os laços entre o continente africano e suas diásporas ao mesmo tempo que aborda fundamentalmente as suas condições sociais. Concebida como uma intervenção espacial, a instalação consiste em grandes telas produzidas em técnica mista e desenho, retratando cartografias diversas, e uma infraestrutura bancária – o Quilombo Bank [Banco Quilombo] –, que nos remete à longeva prática de Kanakassy de criar sucursais monetárias nas diversas geografias onde é possível encontrar o Laboratório de Desberlinização. Produzidas para a ocasião da Bienal, cédulas especiais – conhecidas como Afro-Quilombo, com design que homenageia resistentes quilombolas – são postas em circulação, e os visitantes podem adquiri-las no Quilombo Bank em troca de reais ou dólares estadunidenses. Para além do seu simbolismo, esse gesto é político, pois alude a uma moeda futurista, independente e livre dos mercados globais de câmbio internacional, normalmente determinados por especulações de demanda e oferta e regulados por fatores econômicos como inflação, taxas de juros e eventos geopolíticos. Ele permite a livre circulação de moedas, ao menos ao longo da Bienal.

Na sua abordagem central, Gondwana la fabrique du futur se situa contra estruturas hegemônicas estabelecidas, como as dos Estados-nação, e seus mecanismos viciados, como os regimes de visto e fronteira, provendo assim um espaço no qual a liberdade pode ser praticada.

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian
Parede azul com mapa-múndi estilizado e relógios
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Sala azul simulando a recepção de um banco, com quadros nas paredes e um palanque escrito
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Sala azul simulando a recepção de um banco, com quadros nas paredes e um palanque escrito
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Sala azul simulando a recepção de um banco, com quadros nas paredes e um palanque escrito
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Sala azul simulando a recepção de um banco, com quadros nas paredes e um palanque escrito
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Parede azul com quadros pendurados
Vista de Gondwana la fabrique du futur, de Mansour Ciss Kanakassy, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Mansour Ciss Kanakassy (Dacar, 1957. Vive em Dacar e Berlim) é artista visual que se define como ativista, panafricanista, cidadão global, utopista e radical. Sua obra é diversa e politicamente engajada, abordando temas como migração, integração, diversidade cultural, entendimento mútuo e responsabilidade compartilhada. Compartilha da visão pan-africana de uma África unida e autossustentável, capaz de enfrentar o legado do colonialismo. Participou da Bienal de Dacar e de exposições no Museu Nacional do Mali (Bamako), na Neue Gesellschaft für Bildende Kunst (Berlim) e no Palais des Beaux-Arts (Bruxelas). Suas obras integram coleções como a do Museum der Weltkulturen (Frankfurt), Banco Central dos Estados da África Ocidental, e a Coleção Nacional do Senegal.

This participation is supported by the Institut für Auslandsbeziehungen – IFA.

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