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6 set 2025–11 jan 2026
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Madame Zo

Madame Zo

1.

Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, “Spacemaking and Shapeshifting in Mme Zo’s Weaving Practice”, em Madame Zo. Bientôt je vous tisse tous. Paris: Fondation H, 2024.

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

 

Conhecida como Madame Zo, seu nome artístico, Zoarinivo Razakaratrimo (1956-2020) foi uma figura importante na cena artística malgaxe, famosa por suas obras que constantemente borravam os limites entre arte e artesanato. Formada em tecelagem e tingimento têxtil, Madame Zo se inspirava em técnicas e padrões tradicionais malgaxes, produzindo obras abstratas únicas e características, carregadas politicamente devido à sua capacidade de elaborar questões sobre temas ambientais e sociopolíticos em Madagascar. Em um esforço consciente para repensar os limites das práticas de tecelagem convencionais, Madame Zo integrou objetos atípicos e inesperados aos seus tecidos, complementando os materiais usados tradicionalmente, como algodão e seda. Com frequência oriundos do cotidiano, esses recursos, para além de sua estética ou mera funcionalidade, forneciam informações sobre o processo criativo da artista e seu profundo engajamento com seu meio e as pessoas que o constituíam.

No contexto da 36ª Bienal de São Paulo, uma seleção de suas obras proporciona um vislumbre em profundidade da prática de Madame Zo, que se estendeu por quase cinco décadas. Tecidas com fios de cobre, ervas, madeira, plástico, pedaços de comida e fitas magnéticas, só para mencionar alguns exemplos, as escolhas e o uso de cada material por Madame Zo chamam nossa atenção para algumas das urgências específicas que ela buscou abordar. O cobre, que aparece de modo predominante em seus trabalhos, poderia ser lido como uma referência às tecnologias de comunicação, mas também à cura, devido à sua capacidade de conduzir energias – o que Bonaventure Soh Bejeng Ndikung chamou de os aspectos “técnico-espirituais” do cobre em um texto escrito sobre as obras de Madame Zo.1 Além disso, materiais como ervas ou papel, sobretudo na forma de recortes de jornal, referem-se ao seu engajamento com práticas terapêuticas alternativas e a disseminação de informações, respectivamente.

No que poderia ser lido como uma retrospectiva, a constelação de obras apresentada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo alude, antes de tudo, a uma retrospecção – uma recontextualização de cada obra, particularmente na medida em que elas dizem respeito ao tema da Bienal deste ano e convidam a conjugar a humanidade em suas múltiplas manifestações.

Billy Fowo
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian
Obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Vista inferior de obras em tons de marrom e preto feitas em tiras horizontais
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma parede vermelha com cinco obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados. Em frente a essa parede, três obras menores penduradas, com estruturas similares e franjas na cor preta pendentes
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma parede vermelha com cinco obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados. Em frente a essa parede, três obras menores penduradas, com estruturas similares e franjas na cor preta pendentes
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma parede vermelha com cinco obras retangulares compostas por tiras horizontais na cor preta, algumas com detalhes em tiras brancas que formam desenhos padronizados. Em frente a essa parede, três obras menores penduradas, com estruturas similares e franjas na cor preta pendentes
Vista de obras de Madame Zo durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Conhecida como Madame Zo (Antananarivo, 1960–2020), Zoarinivo Razakatrimo foi uma artista têxtil. Sua obra é reconhecida pelo uso de uma ampla variedade de materiais naturais e artificiais. Trabalhando dentro da tradição das técnicas de tecelagem do lamba — tecido de seda bruta ou algodão — incorporava materiais inusitados em suas criações, como madeira, especiarias, vagens de feijão, plantas medicinais, metais, papel jornal, ossos, fones de ouvido, canetas, clipes de papel, cartões telefônicos e espirais de cadernos. Participou da Bienal de Dacar, e de mostras no National Museum of African Art (Washington) e no Musée du Quai Branly (Paris). Teve exposições individuais na Fondation H, em Antananarivo, incluindo uma retrospectiva com mais de 90 obras que abrangem décadas de sua produção artística.

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