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6 set 2025–11 jan 2026
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Leila Alaoui

Leila Alaoui

Luiza Marcolino

 

Leila Alaoui (1982-2016) nasceu em Paris, filha de mãe francesa e pai marroquino. Cresceu em Marrakech, no Marrocos, e se mudou para os Estados Unidos aos dezoito anos para estudar na Hofstra University, em Long Island, Nova York, onde obteve um diploma em ciências sociais. Mais tarde, continuou seus estudos na City University of New York e, paralelamente à formação acadêmica, trabalhou como assistente de fotógrafos e cineastas em diversos projetos, como nos filmes Women Without Men [Mulheres sem homens] (2009), de Shirin Neshat, e Inside Man [O plano perfeito] (2006), de Spike Lee.

Em uma de suas séries mais célebres, Les Marocains [Os marroquinos] (2010-2014), a artista viaja pelo Marrocos com um estúdio fotográfico portátil, que monta nas ruas de regiões urbanas e rurais, convidando os passantes a serem retratados na hora. Nas imagens, seus perfis se destacam sobre um fundo negro. Apartados de seu contexto, mas secretamente enraizados nele, suas roupas tradicionais tornam-se um convite ao encontro. Nada em suas expressões denota tristeza ou raiva. Pelo contrário, inspiram coragem e afeto no espectador, que, embora detenha o poder de olhar ou desviar-se do marroquino que não o enxerga de volta, percebe-se exposto ao desconhecido.

Poucos anos antes, na série No passara [Não passarão] (2008), a artista registrou jovens que sonham em atravessar o pequeno trecho do Atlântico que separa o norte da África da Europa. São imagens que capturam um desejo em dissonância com a realidade: crianças e adolescentes vivendo em suspensão, aspirando a um horizonte que lhes é proibido, mas que carrega a promessa de um futuro possível. A invisível fronteira entre os países se insinua constantemente nas paisagens – no desfiladeiro da costa, em paredes parcialmente derrubadas, em montanhas de lixo que parecem facilmente transponíveis —, em oposição a suas figuras ainda hesitantes.

Transparece em toda a obra de Leila Alaoui um profundo respeito pelas pessoas que ela fotografava. Através de suas particularidades culturais, a artista divisava e comunicava suas individualidades, a ponto de provocar no público a sensação de uma proximidade inquietante, que coloca em perspectiva tanto a ideia de que alguns possuam direitos negados a outros quanto a própria noção de fronteiras. Para Alaoui, era inconcebível que tantas pessoas arriscassem suas vidas ou sacrificassem suas identidades em travessias que ela mesma poderia fazer com segurança, amparada pelo privilégio de seu passaporte francês.

Contratada em 2016 pela Anistia Internacional para desenvolver um projeto em torno dos direitos das mulheres em Burkina Faso, Leila Alaoui foi vítima de um ataque terrorista dias depois de sua chegada na capital, Uagadugu, falecendo com apenas 33 anos.

Luiza Marcolino

Leila Alaoui (Paris, 1982 – Ouagadougou, 2016) acreditava no poder da fotografia e da arte como ferramentas de ativismo social, defendendo que ambas deveriam refletir e questionar a sociedade. Sua prática abordava questões sociais e culturais ligadas à identidade, diversidade, migração e deslocamento forçado. Criou um estúdio portátil que levava a espaços públicos, convidando os transeuntes a serem fotografados. Suas composições minimizam o fundo, concentrando a atenção na figura retratada. Exibiu sua obra na Bienal de Marrakech, no Museu de Fotografia e Artes Visuais (Marrakech), no Festival de Vídeo do Cairo e na Bienal de Fotografia no Mundo Árabe Contemporâneo (Paris).

Esta participação tem apoio do Institut français através do programa IF Incontournable.