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6 set 2025–11 jan 2026
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Laila Hida

Laila Hida

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

 

Em Sange Khara [Pedra dura] (2025), desenvolvida para a 36ª Bienal, Laila Hida apresenta uma paisagem onde a memória não é narrada, mas circundada – hesitantemente, com ternura, carregando a gravidade de algo sagrado e meio esquecido. O projeto configura uma investigação poética em que as imagens parecem emergir de uma memória reconstruída, ancorada por um filme em 16mm e expandida através de uma instalação imersiva. Personagens se cruzam, reunidos por um conjunto de referências iconográficas e cinematográficas: a jovem de The Wanderers of the Desert [Os nômades do deserto] (1984), o casal de The Sheltering Sky [O céu que nos protege] (1990). Dois rapazes pedalam suas bicicletas e posam numa estrada de terra, como se tivessem acabado de ser escalados para um clipe de rap que evoca uma aparição, a construção de uma paisagem, o deserto, o oásis e seus habitantes, filtrados pelo cinema e pela imagem.

O vídeo é um loop de imagens entrelaçadas, cada uma deslizando para a próxima. Transita de uma referência a outra, conectando temporalidades, geografias, estéticas e narrativas. A instalação convida os visitantes a sentar, deitar e fazer uma pausa. Seus elementos cênicos evocam espaços de sombra, arquiteturas desérticas onde cada detalhe cumpre uma função prática enquanto carrega uma estética discreta e deliberada.

O trabalho de Hida explora como a memória e o desejo sobrevivem em fragmentos, imagens, objetos e gestos que transitam entre fato e ficção. Aqui, ela constrói um cenário onde os limites entre roteiro, crença e explicação se dissolvem. Restam resíduos sonoros, deriva atmosférica, pistas artesanais. O filme sugere a fabricação de paisagens, travessias transaarianas e imaginários pós-coloniais, mas com uma suave insistência, sem alarde. E a instalação não pede para ser entendida, mas habitada. O significado não é declarado; é encontrado por acaso. Ou talvez, como os círculos na areia, seja algo que só se reconhece ao voltar.

Cameron Ah Loo-Matamua
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

Laila Hida (Casablanca. Vive em Marrakech) é artista e agente cultural cuja prática se concentra na imagem e na fotografia, explorando seu uso como material de arquivo e como disparador de ficções. Seu projeto mais recente, Le Voyage du Phoenix, investiga a fotografia, a literatura e o cinema como ferramentas para destilar o regime de desejo do século XX. Fundou o LE 18, espaço cultural multidisciplinar e residência artística na medina de Marrakech. O projeto reflete seu compromisso em explorar como os ambientes moldam a produção artística, as práticas de mediação e a pesquisa. Hida já curou inúmeros programas internacionalmente, incluindo o projeto coletivo do LE 18 na documenta 15 e as etapas marroquinas do Art Explora Festival (Marselha). É também fundadora do Dabaphoto, programa anual dedicado à fotografia e à criação de imagens no Marrocos.

Esta participação tem apoio do Institut français através do programa IF Incontournable.

 

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