A obra de Julianknxx não se fixa – ela se move. Seu trabalho atravessa geografias, línguas e gestos, construindo um arquivo em trânsito no qual cada voz ressoa como parte de um grande coro. Pensar seu trabalho é pensar diretamente nas raízes culturais da África Ocidental, especialmente Serra Leoa, país de origem do artista. Em filmes, instalações e performances, o artista não busca um testemunho único, mas um tecido de memórias e presenças que escapa às narrativas coloniais. Seu olhar não coleciona, mas escuta.
A noção de deslocamento é constantemente presente. O mar, as cidades portuárias, os corpos em espera ou em trânsito – todos atravessam sua obra como vestígios de um passado que nunca cessou de se movimentar. O oceano não é apenas cenário, mas personagem: um arquivo líquido que guarda traumas e possibilidades, que apaga rastros e, ao mesmo tempo, transporta-os. A Europa, em sua filosofia, não é um espaço fixo, mas uma paisagem instável, onde corpos negros reinventam o que significa pertencer.
Julianknxx se interessa tanto pela história do mundo como pela história cotidiana das pessoas que o compõem, interesse que tece o pano de fundo de sua narrativa. O coro, a palavra falada, a performance que se torna matéria – o artista entende a música como resistência, mas também como vestígio de algo maior: o som de quem nunca parou de se mover. Sua obra se inscreve na tradição oral de uma África viva e nos leva à seguinte questão: o que significa pertencer a um lugar quando os lugares são sempre atravessados por outras histórias?
A escrita de poemas é uma parte fundamental de seu processo criativo, uma ferramenta que não apenas embasa sua obra, mas a forma enquanto ele articula suas experiências e observa as realidades do mundo, transformando fragmentos de memória em novas formas de resistência. Sua prática desafia as hierarquias do arquivo ocidental, modificando a escuta em método radical e a fragmentação, em forma. O que importa não é apenas o que é dito, mas também o silêncio que alerta: o cansaço também pode ser resistência.
Julianknxx propõe uma escuta radical. Em sua obra, o passado e o presente friccionam-se, e a história não se revela como um relato estático, mas como algo que pulsa, que se refaz a cada canto. No cruzamento entre arte e política, suas imagens e sons nos lembram que nossas histórias nunca foram apenas as narrativas coloniais que nos contaram – elas também são aquilo que seguimos cantando, mesmo quando ninguém parece estar ouvindo.