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6 set 2025–11 jan 2026
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Hajra Waheed

Hajra Waheed

Arthur Gruson
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

 

Studies for a Starry Night 1-94 [Estudos para uma noite estrelada 1-94] (2019) é uma instalação escultórica composta de placas únicas de cerâmica e porcelana esmaltada, moldadas manualmente. A obra amplia com cuidado a exploração do céu noturno que é característica da prática de Hajra Waheed – uma repetição meticulosa de vastidão que permanece central em sua produção artística. Tradicionalmente utilizado como guia para orientação e sobrevivência, o céu se transforma aqui em objeto de estudo silencioso, uma meditação e uma mediação que representam um mesmo firmamento fragmentado em múltiplos pontos de observação.

Tanto Studies for a Starry Night 1-94 quanto The Kamal [O Kamal] (2025) – nova série em papel inspirada no poema homônimo escrito pela artista em 2018 – exploram temas de navegação, deslocamento e memória coletiva. O kamal, também conhecido como khashaba (“madeira” em árabe), é um instrumento de navegação celeste usado para determinar a latitude, tendo permitido algumas das primeiras navegações baseadas em coordenadas. Desenvolvido por navegadores árabes no século 9 e posteriormente adotado por marinheiros indianos e do leste africano, tornou–se amplamente utilizado no oceano Índico, especialmente para estimar a distância até a costa. Seu design dispensava linguagem escrita ou instrumentos avançados, tornando-o acessível a diversas culturas marítimas. Baseado exclusivamente em alinhamento físico e memória, sem usar instruções escritas ou cálculos matemáticos, o kamal pertencia a uma tradição oral e visual, e era repassado entre marinheiros de geração em geração, não por meio de textos ou mapas, mas por transmissão direta: observação, repetição e prática incorporada. Waheed reflete sobre essas metáforas de navegação, sobrevivência e a capacidade de encontrar direção e esperança mesmo em tempos de incerteza.

Nascida em 1980 no Canadá e criada na Arábia Saudita, Waheed tem histórias familiares que remontam a Hyderabad, na Índia, com laços ancestrais que se estendem à Turquia e ao Iêmen, refletindo séculos de migrações pelo oceano Índico e pela Ásia Central. Embora situada no interior, Hyderabad foi um centro de comércio, erudição e intercâmbio cultural historicamente importante, diretamente conectada a redes marítimas e terrestres que ligavam o subcontinente indiano à Ásia Central, África e ao mundo do oceano Índico. Registros cartográficos e relatos históricos documentam seu papel estratégico nessas rotas globais, revelando uma história de encontros e transformações. Esse legado de mobilidade continua a moldar a vida e a obra de Waheed, fundamentando suas explorações a respeito de deslocamento, orientação e memória coletiva em uma linhagem profundamente pessoal e transregional. Sua prática resiste de modo contínuo a fronteiras, encarnando um mundo marcado tanto por rupturas e exílios quanto por conexões e continuidade.

Arthur Gruson
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

A prática multidisciplinar de Hajra Waheed (1980. Vive em Montreal e Yogyakarta) abrange pintura e desenho, além de vídeo, som, escultura e instalação. Sua obra investiga as redes de poder que estruturam a vida, ao mesmo tempo em que aborda os traumas e a alienação de pessoas deslocadas afetadas pelos legados da violência colonial e estatal. Caracterizadas por uma linguagem visual distinta e uma abordagem poética singular, suas obras frequentemente utilizam o cotidiano como meio para expressar o profundo, e a paisagem para transpor a luta humana e uma política radical de resistência e resiliência. Waheed participou de exposições em diversas partes do mundo, incluindo a 15ª Bienal de Sharjah (2023), onde recebeu um prêmio, a 2ª Bienal de Lahore (2020), a 57ª Bienal de Veneza (2017) e a 11ª Bienal de Gwangju (2016). Suas obras integram importantes coleções, como as do MoMA, do British Museum, do Centre Pompidou, da Burger Collection e da Devi Art Foundation.