Gōzō Yoshimasu, “Princess Weaver”. Bomb, n.16, verão de 1986, p.73. Disponível em: bombmagazine.org/articles/1986/07/01/four-poems-yoshimasu/. Acesso: 2025.
Gōzō Yoshimasu está há mais de seis décadas na vanguarda da poesia japonesa. Experimentando com palavras, tipografia e pontuação, e incorporando fragmentos de línguas estrangeiras e textos encontrados, seus poemas celebram a multiplicidade exuberante da linguagem. Paralelamente, Yoshimasu imprime em suas composições uma urgência transcendente ao relatar suas jornadas físicas e intelectuais. Em “Princess Weaver” [Princesa tecelã], por exemplo, uma visita a uma cidade mineira no norte do Japão inspira a seguinte observação: “Antigamente, parado em meio ao cheiro de centenas de toneladas de cal, flores azuis, conchas também fósseis de peixes também, a Linha Aoume descia a montanha pouco a pouco”.1
A prática criativa de Yoshimasu vai além da página impressa, estendendo-se a performances, fotografia, imagem em movimento e gravações sonoras. Em suas performances, Yoshimasu reinterpreta seus poemas por meio de vocalizações, gestos corporais, operações aleatórias (como pendurar sinos entre seus dentes com uma corda) e colaborações com outros artistas. Em 2006, começou a produzir vídeos com uma câmera digital portátil. Essas obras geralmente apresentam reflexões do poeta sobre arte e vida, em resposta a locais que variam das Watts Towers em Los Angeles à Base Aérea de Yokota do Exército estadunidense, próxima à casa onde cresceu em Tóquio. Muitos de seus trabalhos transitam fluidamente entre diferentes materialidades, como placas de cobre e pergaminhos com palavras e outros motivos inscritos, que se tornam tanto partituras quanto instrumentos em suas performances.
Nos últimos anos, Yoshimasu foi profundamente afetado pelo terremoto, tsunami e acidente nuclear de Tohoku em 11 de março de 2011. A catástrofe inspirou o projeto multimídia apresentado na 36ª Bienal, Dear Monster [Querido monstro] (2012-2016), composto de mais de seiscentos textos escritos à mão, com desenhos, marcas e colagens de elementos. A maior parte da obra é dedicada à transcrição dos escritos do poeta e pensador do pós-guerra Takaaki Yoshimoto, mentor de Yoshimasu que faleceu em março de 2012. Manifestando o “dever poético” de um sobrevivente, as transcrições de Yoshimasu remetem ao ato devocional de copiar sutras budistas, ao mesmo tempo que sugerem uma tradução ou renovação do conteúdo original. No entanto, grande parte do texto subjacente torna-se ilegível devido a respingos quase caligráficos de tinta em cores vibrantes, que materializam a convergência explosiva entre criação e destruição, lembrança e esquecimento: em uma palavra, a sobrescrita inerente ao próprio texto. Dear Monster deu origem, por sua vez, aos projetos subsequentes Fire Embroidery [Bordado de fogo] (2016-2018), New Dear Monster [Novo querido monstro] (2016-2022) e Voix [Voz] (2019-2020).