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6 set 2025–11 jan 2026
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Gê Viana

Gê Viana

Nathalia Grilo

 

No cruzamento entre fé, sonoridade e pertencimento, Gê Viana investiga as vibrações que sustentam comunidades negro-indígenas, nas quais a música não é apenas expressão cultural, mas inscrição histórica carregada de insubmissão. Sua pesquisa parte da experiência e desdobra-se como uma narrativa viva, conectando corpos, territórios e afetos ao entrelaçar memórias reais e fictícias. Assim, a artista desmonta cenas cristalizadas na historiografia oficial e amplia leituras sobre as heranças culturais no Brasil. Articulando uma arqueologia visual e sonora que remonta pedaços de registros – dentro do discurso hegemônico ou no imaginário popular –, ela cria obras que se tornam símbolos de resistência.

Ao desafiar narrativas coloniais, Viana resgata a dignidade de populações marginalizadas e elabora uma prática afetuosa que transita entre o analógico e o digital. Suas obras deslocam marcas da violência racial e instauram sentidos de libertação imaginativa, algo que Édouard Glissant chamou de “superação do trauma colonial”. As radiolas do Maranhão, as batidas do reggae e os tambores dos terreiros emergem como camadas sensíveis em suas produções, ressoando memorações que desafiam o silenciamento histórico. A tradição do reggae maranhense, captada pelos sentidos da artista, revela-se como um gênero que, embora marginalizado, construiu um território próprio, enraizado nas diásporas negras e na luta pela permanência. Potentes sistemas de som e ritmos ancestrais estruturam sua obra, em que ruídos, ecos e pulsações atuam como forças insurgentes que entoam celebrações comunitárias, formando uma tessitura que transcende a experiência estética: são rastros de uma trajetória coletiva que desafia o esquecimento.

Para além do impacto harmônico, sua prática carrega um compromisso político inegociável. Suas imagens evocam o passado das diásporas, mas sem fixar esses corpos na dor – pelo contrário, ela os insere em universos poéticos de fabulação, resistência e futuridade. Suas criações operam como portais nos quais os tempos se confundem, e os ecos de outras histórias ainda podem ser escutados.

A fusão entre arquivo e criação especulativa revela uma busca por continuidades interrompidas, por narrativas soterradas que insistem em emergir. A cada justaposição de imagens, a cada deslocamento de uma fotografia antiga para um novo suporte, a artista constrói uma cartografia em que todos os tempos vibram juntos, e na qual o futuro não é apenas uma espera, mas um chamado à invenção. Seja na reconfiguração imagética ou na amplificação de frequências seculares, sua poética constrói um espaço onde continuidade e ruptura coexistem. Suas obras não apenas documentam, mas abrem caminhos para que as sonoridades visuais permaneçam como matéria pulsante, promessa de futuro e convite à escuta de sussurros antigos que nunca deixaram de vibrar: a melanina, o amor, a fé, a luta, a invenção e a comunidade.

Nathalia Grilo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Caixas de som com colagens fotográficas
Detalhe de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Fotos em preto e branco com televisão no meio
Detalhe de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Detalhe de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma grande estrutura retangular, composta por diversos alto-falantes e fotografias em preto e branco dentro de molduras amarelas. A estrutura leva um tecido vermelho comprido acima dela. Nas laterais, grandes caixas com fotografias maiores, e mais alto-falantes. A frente e ao centro das caixas, uma escultura de figura humana estilizada, de braços e pernas abertos com um desenho em branco na barriga e franjas em branco e vermelho na cabeça e base.
Vista de A colheita de Dan, de Gê Viana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Gê Viana (Santa Luzia, 1986. Vive e trabalha em São Luís) é artista visual formada pela Universidade Federal do Maranhão. Atua entre o espaço doméstico e o urbano, utilizando colagem manual e digital, pintura e a técnica do lambe-lambe. Sua prática parte de imagens de arquivo e da memória oral de sua família, articulando narrativas do cotidiano afro-diaspórico maranhense e confrontando a cultura hegemônica. Participou da Bienal das Amazônias (Belém, 2023), do 38º Panorama da Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2024), da mostra Histórias brasileiras (MASP, São Paulo, 2022) e da Borås Art Biennial (2024). Suas obras integram coleções como as da Pinacoteca de São Paulo e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.