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Farid Belkahia

Farid Belkahia

1.

Rajae Benchemsi (org.), Farid Belkahia. Milão: Skira, 2014.

Morad Montazami
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

 

O pintor e escultor Farid Belkahia (1934-2014) foi diretor da Escola de Arte de Casablanca de 1962 a 1974, um dos pioneiros da arte moderna marroquina e africana e uma figura de destaque para os estudos do Sul Global e a história da arte pós-colonial.

Depois que ele viajou pelo mundo – de Paris, onde estudou na École Nationale des Beaux Arts, a Praga, onde conheceu artistas comunistas como Pablo Neruda e Paul Éluard –, seu trabalho tomou um rumo radical em meados dos anos 1960. A partir de então, ele concentrou seus esforços em desmascarar o aparato da pintura ocidental, recorrendo alternativamente ao cobre, a peles de animais e a molduras próprias decoradas. Sua obra combina influências da caligrafia árabe, do alfabeto berbere e de geometrias arquetípicas e multiculturais. Em suas “telas moldadas”, ele usa pele de animal em vez de tela, e hena em vez de tinta a óleo. A profunda ligação de Belkahia com os berberes e as artes populares africanas ressoa em sua declaração de que “a tradição é o futuro do Homem”1.

A profundidade de sua pesquisa e exploração visual, simbólica e semântica nos leva a enxergar sua obra como uma espécie de modernismo esotérico ou talismânico – uma arte de transcrever línguas e pictogramas antigos ou sagrados (com um papel específico para elementos relacionados ao sufismo) em um novo sistema modernizado e de certa forma pan-africano de signos em migração (no qual a influência de Paul Klee e da Bauhaus ainda pode ser decifrada).

A obra Composition [Composição] (1996), apresentada na Bienal, pode ser relacionada a diferentes ciclos de telas moldadas ou pinturas em relevo de Belkahia, mesclando formas antropomórficas e abstratas, como Féminité [Feminilidade] (1980), Transe (1986), Procession [Procissão] (1996) ou Main [Mão] (1980). Como se pode observar, sua linguagem de signos e símbolos assume conotações e formas bastante eróticas e sexuais, como grande parte de suas pinturas sobre peles, passando por um impressionante processo de abstração erotizada e emancipação de um corpo transexual por meio da obra.

Após dois anos como jovem diretor da Escola de Arte de Casablanca, Belkahia expandiu sua visão: entre 1964 e 1965, nomeou Mohamed Melehi e Mohammed Chabâa como professores de artes visuais, juntamente com Toni Maraini e Bert Flint para os cursos de história da arte. Juntos, eles conduziram a revolução pedagógica mais impressionante do período pós-independência do Marrocos, conhecida como Escola de Arte de Casablanca, que hoje recebe grande atenção no campo da história da arte pós-colonial e dos museus globais.

Em 1987, Farid Belkahia representou o Marrocos na 19a Bienal de São Paulo, ao lado de Mohamed Melehi, Mohammed Kacimi, Fouad Bellamine e Abdelkebir Rabi.

Morad Montazami
Traduzido do inglês por Gabriel Bogossian

Farid Belkahia (1934–2014, Marrakech) foi um artista modernista e reformador do ensino artístico no Marrocos. Estudou na École des Beaux-Arts de Paris e em Praga. De 1962 a 1974, dirigiu a Escola de Belas Artes de Casablanca, liderando o movimento da Escola de Casablanca. Sua prática combinava pintura, metal e couro, integrando técnicas tradicionais e materiais naturais como henna. Belkahia expôs em instituições como o Institut du Monde Arabe e o Centre Pompidou, ambas em Paris. Suas obras integram coleções públicas como a do Centre Pompidou, Mathaf: Arab Museum of Modern Art (Doha, Catar) e a Tate Modern (Londres).​

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