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6 set 2025–11 jan 2026
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Edival Ramosa

Edival Ramosa

André Pitol

A produção artística de Edival Ramosa é múltipla, resultado de diversas viagens realizadas no espaço e no tempo. Viandante nato, o percurso poético de mais de cinco décadas do artista abrange principalmente o período em que residiu em Milão, na Itália, entre 1964 e 1974, momento no qual sua arte tomou forma poética, mas sua circulação alcançou muitos outros lugares, como Egito, Marrocos, a antiga Iugoslávia, Estados Unidos, Suíça, Bélgica e Inglaterra, além de cidades brasileiras como Cuiabá, Cabo Frio, Ribeirão Preto, Brasília, São Paulo e Ubatuba.

Seu pensamento geométrico acerca da escultura circular e totêmica é singular, fazendo dele um nome incontornável da produção abstrata geométrica do Brasil. Com Ramosa, prestamos atenção tanto aos elementos abstratos de sua poética quanto à proximidade com inquietações e oportunidades voltadas à produção experimental. De sorte que, quando nos deparamos com um trabalho do artista, possivelmente tenhamos a impressão de já o ter visto em exposições coletivas de arte afro-brasileira, embora não o reconheçamos por completo.

Seus elementos centrais são esferas, colunas, casulos, luas, cometas, flechas e outras “formas-objetos”, como ele caracteriza boa parte de suas obras, cada qual variando em gradações de cores e em formas geométricas. Obras como Caboclo 7 Flechas (1965), Árvore multicor II – Ogum (1966), Toy para Leonardo da Vinci (1968), Estudo para o Sol (1969), Lua (1969) e Cometa (1973) evidenciam as operações poéticas elaboradas por Ramosa, apontando para uma faceta curiosa, na qual um trabalho não figurativo e geométrico estabelece proximidades com realidades cósmicas.

Cenas abstratas tornam-se estrelas e anéis planetários e vice-versa. Em Estudo para o Sol, por exemplo, as linhas circulares, os vazios transparentes e as cores fracionadas ecoam elementos de especulação: a obra seria talvez uma versão em miniatura do trabalho O Sol dos povos de cor (1969), objeto realizado em escala humana, um grande semicírculo formado por discos que se sobrepõem em uma paleta de amarelos, laranjas, vermelhos e roxos, tom sobre tom, com seu diâmetro espelhado em uma base refletora de acrílico. A constelação geométrica de Edival Ramosa orbita em várias escalas, diminutas ou agigantadas, fazendo do artista um viandante cósmico no horizonte da abstração no Brasil.

André Pitol

Edival Ramosa (São Gonçalo, 1940–Niterói, 2015) foi pintor e escultor. Após atuar no Batalhão Suez da ONU no Egito, em 1962, voltou-se à arte, impulsionado por experiências em território africano. Viveu em Milão por uma década, onde trabalhou com artistas como Arnaldo Pomodoro e Lucio Fontana. Inicialmente influenciado pelo construtivismo, criou obras em madeira, aço inoxidável e acrílico, com jogos ópticos e referências urbanas. A partir dos anos 1970, incorporou materiais como palha, miçangas e penas, em diálogo com as culturas indígenas e afro-brasileiras. Sua obra está em acervos como o MAM Rio, MAC Niterói, Pinacoteca de São Paulo e California African American Museum (Los Angeles).