A produção artística de Edival Ramosa é múltipla, resultado de diversas viagens realizadas no espaço e no tempo. Viandante nato, o percurso poético de mais de cinco décadas do artista abrange principalmente o período em que residiu em Milão, na Itália, entre 1964 e 1974, momento no qual sua arte tomou forma poética, mas sua circulação alcançou muitos outros lugares, como Egito, Marrocos, a antiga Iugoslávia, Estados Unidos, Suíça, Bélgica e Inglaterra, além de cidades brasileiras como Cuiabá, Cabo Frio, Ribeirão Preto, Brasília, São Paulo e Ubatuba.
Seu pensamento geométrico acerca da escultura circular e totêmica é singular, fazendo dele um nome incontornável da produção abstrata geométrica do Brasil. Com Ramosa, prestamos atenção tanto aos elementos abstratos de sua poética quanto à proximidade com inquietações e oportunidades voltadas à produção experimental. De sorte que, quando nos deparamos com um trabalho do artista, possivelmente tenhamos a impressão de já o ter visto em exposições coletivas de arte afro-brasileira, embora não o reconheçamos por completo.
Seus elementos centrais são esferas, colunas, casulos, luas, cometas, flechas e outras “formas-objetos”, como ele caracteriza boa parte de suas obras, cada qual variando em gradações de cores e em formas geométricas. Obras como Caboclo 7 Flechas (1965), Árvore multicor II – Ogum (1966), Toy para Leonardo da Vinci (1968), Estudo para o Sol (1969), Lua (1969) e Cometa (1973) evidenciam as operações poéticas elaboradas por Ramosa, apontando para uma faceta curiosa, na qual um trabalho não figurativo e geométrico estabelece proximidades com realidades cósmicas.
Cenas abstratas tornam-se estrelas e anéis planetários e vice-versa. Em Estudo para o Sol, por exemplo, as linhas circulares, os vazios transparentes e as cores fracionadas ecoam elementos de especulação: a obra seria talvez uma versão em miniatura do trabalho O Sol dos povos de cor (1969), objeto realizado em escala humana, um grande semicírculo formado por discos que se sobrepõem em uma paleta de amarelos, laranjas, vermelhos e roxos, tom sobre tom, com seu diâmetro espelhado em uma base refletora de acrílico. A constelação geométrica de Edival Ramosa orbita em várias escalas, diminutas ou agigantadas, fazendo do artista um viandante cósmico no horizonte da abstração no Brasil.