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6 set 2025–11 jan 2026
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Cici Wu com Yuan Yuan

Cici Wu com Yuan Yuan

André Pitol
Traduzido do inglês por Rafael Falasco

 

Belonging and Difference [Pertencimento e diferença] (2023) é um curta-metragem e um projeto colaborativo a longa distância entre Cici Wu e Yuan Yuan. Juntas, utilizaram filme 16mm e vídeo digital, com textos escritos em chinês tradicional e inglês, além de uma breve narração em cantonês. A obra começa com imagens captadas no East Broadway Mall, no bairro nova-iorquino de Chinatown, durante a pandemia, onde trabalhadores descrevem tanto suas expectativas em relação às condições de trabalho quanto as circunstâncias reais em um bairro que está gradualmente se esvaziando e se transformando dia após dia. Em seguida, o filme se desloca para Pequim, com imagens registradas por volta do período dos Protestos das Folhas em Branco – antes e depois –, incluindo cenas de quarentena, vida familiar, memoriais do 4 de junho e uma festa queer underground, encerrando com cenas em Hong Kong: o túnel submerso que atravessa a baía, em referência ao cerco à Universidade Politécnica de Hong Kong – uma ferida ainda aberta.

No cerne da obra, as artistas investigam como os conceitos de “diaspórico” e “migratório” são indexados, sugerindo o potencial de uma estética migratória – em vez de uma defesa territorial – como meio experimental de reparação, narrando, expressando, libertando e despertando de forma contínua. Elas percorrem rotas e caminhos diversos em busca de maneiras de negociar a identidade não por meio da geografia ou da nacionalidade, mas por redes flexíveis de pertencimento social e alinhamento político.

Persistem as memórias de isolamento causadas pelo trânsito e pelas viagens entre Pequim, Hong Kong e Nova York em 2022 e 2023. Sometimes you’re ahead, sometimes behind [Às vezes estamos adiantados, às vezes atrasados]. O mundo da vida e o mundo do cinema compartilham o mesmo fluxo temporal, e, como espectadores – entre horizontes, imagens borradas e rupturas inesperadas –, transitamos entre pertencimento e diferença.

“Pertencimento e diferença” são, de fato, a dimensão que molda de forma fundamental o vídeo de Cici e Yuan. Mas, se a ideia de pertencimento pode sugerir uma unidade de grupo ou comunidade, aqui ela está muito mais ligada à diferença – como força produtiva e movimento constante de transformação. A identidade escapa dessa equação. Uma noção alternativa de identidade é posta à prova: porosa e circulante, descontínua e errante.

André Pitol
Traduzido do inglês por Rafael Falasco

Cici Wu (Pequim, 1989. Vive em Nova York e Hong Kong) cria obras em mídias mistas que abrangem desenho, cinema, escultura, instalação e materiais encontrados. Suas instalações poéticas abordam memória e mobilidade, combinando papel de arroz, bambu e elementos cinematográficos. Partindo muitas vezes de micro-histórias locais ou arquivos, ela utiliza o enquadramento cinematográfico como forma de negociar e refletir sobre como narrativas transpessoais de pertencimento social, cultural e histórico estruturam experiências de identidade. Wu é cofundadora dos espaços PRACTICE e The Room of Spirit and Time, em Nova York. Sua obra já foi exibida em instituições e eventos como o Rockbund Art Museum (Xangai), Drawing Center (Nova York), Para Site (Hong Kong), MMCA (Seul), CAPC Bordeaux, a Bienal de Arte Asiática (Taiwan), a Trienal de Yokohama e a Bienal Mediacity de Seul.

Yuan Yuan (1994) trabalha com escrita, imagem em movimento e fotografia para refletir sobre pertencimento e deslocamento vividos por humanos de forma coletiva e individual. Sua prática investiga os vínculos entre estruturas artificiais e o mundo natural, questionando como nos situamos em paisagens, memórias, emoções e sistemas maiores que nós, desafiando noções de antropocentrismo. Com formação em literatura e linguagem, Yuan trata a escrita como ferramenta e espaço de reflexão, que evolui com as formas visuais. Seus trabalhos frequentemente se originam de gestos sutis, sequências oníricas e fragmentos de arquivo, explorando o limiar entre o orgânico e o artificial, o íntimo e o coletivo. Sua pesquisa gira em torno da tensão entre intimidade e estranhamento, questionando como podemos repensar a presença humana de forma silenciosa e a partir das margens.