Belonging and Difference [Pertencimento e diferença] (2023) é um curta-metragem e um projeto colaborativo a longa distância entre Cici Wu e Yuan Yuan. Juntas, utilizaram filme 16mm e vídeo digital, com textos escritos em chinês tradicional e inglês, além de uma breve narração em cantonês. A obra começa com imagens captadas no East Broadway Mall, no bairro nova-iorquino de Chinatown, durante a pandemia, onde trabalhadores descrevem tanto suas expectativas em relação às condições de trabalho quanto as circunstâncias reais em um bairro que está gradualmente se esvaziando e se transformando dia após dia. Em seguida, o filme se desloca para Pequim, com imagens registradas por volta do período dos Protestos das Folhas em Branco – antes e depois –, incluindo cenas de quarentena, vida familiar, memoriais do 4 de junho e uma festa queer underground, encerrando com cenas em Hong Kong: o túnel submerso que atravessa a baía, em referência ao cerco à Universidade Politécnica de Hong Kong – uma ferida ainda aberta.
No cerne da obra, as artistas investigam como os conceitos de “diaspórico” e “migratório” são indexados, sugerindo o potencial de uma estética migratória – em vez de uma defesa territorial – como meio experimental de reparação, narrando, expressando, libertando e despertando de forma contínua. Elas percorrem rotas e caminhos diversos em busca de maneiras de negociar a identidade não por meio da geografia ou da nacionalidade, mas por redes flexíveis de pertencimento social e alinhamento político.
Persistem as memórias de isolamento causadas pelo trânsito e pelas viagens entre Pequim, Hong Kong e Nova York em 2022 e 2023. Sometimes you’re ahead, sometimes behind [Às vezes estamos adiantados, às vezes atrasados]. O mundo da vida e o mundo do cinema compartilham o mesmo fluxo temporal, e, como espectadores – entre horizontes, imagens borradas e rupturas inesperadas –, transitamos entre pertencimento e diferença.
“Pertencimento e diferença” são, de fato, a dimensão que molda de forma fundamental o vídeo de Cici e Yuan. Mas, se a ideia de pertencimento pode sugerir uma unidade de grupo ou comunidade, aqui ela está muito mais ligada à diferença – como força produtiva e movimento constante de transformação. A identidade escapa dessa equação. Uma noção alternativa de identidade é posta à prova: porosa e circulante, descontínua e errante.