Christopher Cozier é um artista, escritor e curador trinitário cuja obra examina criticamente os efeitos persistentes do colonialismo e da globalização no Caribe. Atuando em diversos meios artísticos, como desenho, instalação, vídeo e performance, seus trabalhos criam espaços de diálogo para explorações poéticas (e às vezes irônicas) do mundo e do cotidiano a partir de uma perspectiva caribenha.
Com raízes profundas no desenho, elemento central de sua prática, suas peças frequentemente se assemelham a storyboards ou ensaios visuais que, observados de perto, revelam composições de muitas camadas, sugerindo movimento no tempo e no espaço e referenciando tanto a história quanto o presente. Funcionando simultaneamente como espelho e mapa, refletindo as complexidades da existência caribenha enquanto traçam novos caminhos para o pensamento e a ação, as obras de Cozier convidam o espectador a confrontar histórias incômodas, questionar narrativas herdadas e imaginar futuros alternativos ancorados na autodefinição e crítica cultural.
Para a 36a Bienal de São Paulo, o artista apresenta uma nova obra intitulada After the Appeal Will Come the Next Delivery [Após o apelo virá a próxima entrega] (2025). Inspirada nas transmissões de críquete que ouvia na infância, a peça consiste em diversas bandeirolas, cada uma carregando um signo ou padrão. Reconhecível entre os inúmeros desenhos está o gesto de “apelo”, também chamado de “howzat”, realizado por um jogador de campo em direção ao árbitro durante uma partida de críquete. Referindo-se a um processo crucial de decisão, o apelo geralmente simboliza o momento decisivo antes que um rebatedor seja declarado “out” ou não, permitindo que o jogo continue. Particularmente sugestiva, a obra transcende sua estética para servir como metáfora, estabelecendo paralelos entre aspectos do jogo e os mecanismos que definem e regulam as interações sociais, como injustiças e dinâmicas de poder. Além disso, aparecem símbolos característicos da linguagem visual desenvolvida por Cozier ao longo dos anos (figuras humanas e fragmentos de textos), inscritos principalmente em bandeirolas vermelhas, verdes e pretas, cores que remetem aos movimentos de libertação no continente africano e no Oriente Médio.