A prática de Cevdet Erek surge na interseção entre som, ritmo e experiência espacial, em que gestos mínimos carregam uma complexidade ressonante. Com a sensibilidade de um arquiteto e a precisão de um percussionista, Erek orquestra instalações que reconfiguram de forma sutil nossa percepção de espaços e ambientes arquitetônicos. Por meio da interação entre elementos visuais e sonoros aparentemente simples – como réguas, tambores esquemáticos ou partituras diagramáticas – ou entre construções em escala quase arquitetônica integradas a sistemas de som, ele cria cenários imersivos nos quais o corpo todo se torna instrumento de percepção. Suas obras evocam uma atenção silenciosa, direcionando nosso olhar para os ritmos da vida cotidiana, os movimentos corporais, as rotinas institucionais e as histórias latentes inscritas nas estruturas arquitetônicas.
Projetos anteriores como Room of Rhythms [Sala de ritmos] (2012) e ÇIN (2017) ilustram a capacidade de Erek de produzir ambientes imersivos ao cuidadosamente calibrar som, arquitetura e movimento. Mais do que impressionar os visitantes, essas instalações guiam com delicadeza percursos e encontros pessoais, permitindo experiências individuais de espaços. Estruturas arquitetônicas simples, como escadas, rampas ou demarcações espaciais mínimas, tornam-se estruturas pelas quais o som interage com o movimento humano, dissolvendo as distinções claras entre observador, arquitetura e performer. Da mesma forma, em obras como SSS – Shore Scene Soundtrack [Trilha sonora da costa] (2006), Erek transforma materiais cotidianos (tapetes, manuais, diagramas) em instrumentos que convidam o público a participar ativamente da construção de paisagens acústicas.
Para a obra apresentada nesta Bienal, Rampa rítmica/ Rhythmic Ramp (2025), Erek criou uma coreografia espacial na rampa externa do icônico edifício modernista de Niemeyer, conectando os diferentes andares e capítulos da exposição uns com os outros, usando intervenções rítmicas que mediam as fronteiras arquitetônicas. Esta obra site-specific trabalha com elementos sonoros e geométricos meticulosamente articulados, usando a temporalidade do som e sua disposição arquitetônica como ferramentas para ressignificar o espaço. O elemento central dessa experiência é a rampa – espaço cotidianamente utilizado por transeuntes e corredores fora do período da Bienal –, que se transforma em um território onde elementos rítmicos ressoam entre si, com a arquitetura e com o entorno. Seu universo sonoro incorpora padrões extraídos da música underground, tanto da Istambul natal de Erek quanto das paisagens rítmicas vernaculares de São Paulo. A obra evoca associações sobre os movimentos pelo espaço – de subida e descida – que conectam mundos sonoros e arquitetônicos, assim como as ascensões e quedas presentes nos fluxos e nas histórias.