Carla Gueye, em sua prática multidisciplinar, investiga as noções de intimidade e transculturalidade, explorando como essas questões se manifestam e reverberam no contexto familiar. Suas obras propõem reflexões sobre as complexidades da identidade, das relações afetivas e das experiências que emergem dos encontros e tensões entre diferentes culturas. Ao se aproximar da alteridade, seu trabalho revela também dimensões emocionais, artísticas e socioecológicas.
Ao empregar materiais como cal e barro, Gueye não apenas explora suas propriedades físicas, mas também constrói narrativas que reconfiguram saberes e imaginários culturais. Temas como a memória, a figura feminina e os processos enraizados na escavação e reapropriação de narrativas parcialmente confiscadas atravessam sua produção, que se torna, simultaneamente, uma forma de reinscrever e compreender sua própria história. O trabalho manual que permeia sua poética estabelece uma relação íntima, quase doméstica, com os materiais, evocando, de modo metafórico, a ideia de construção, tanto em sua dimensão social quanto humanista. Assim, suas obras se configuram como espaços sensíveis de diálogo e reflexão sobre cultura, identidade e as complexas tramas que moldam a experiência humana.
Cabinet of Invisible Desires [Gabinete dos desejos invisíveis] (2025) é uma instalação interdisciplinar que explora as dimensões sensoriais, simbólicas e culturais da intimidade por meio de uma releitura contemporânea de rituais femininos de sedução, especialmente aqueles associados ao dial diali, a arte wolof da sedução. O projeto utiliza uma linguagem híbrida que combina escultura, tecido, vídeo e composição olfativa para propor uma estética do desejo enraizada em gestos invisíveis do cotidiano, em saberes vernaculares e nos arquivos sensíveis do corpo.