Antonio Társis é um artista multidisciplinar brasileiro cujas instalações geram ressonâncias porosas entre som, estrutura e o impacto material da pegada ecológica da humanidade. Sobrepondo elementos tangíveis e sonoros, Társis cria uma tonalidade visceral por meio da colagem de memórias visuais, espaciais e materiais. Do atrito da água aquecida aos assobios pressurizados do vapor, passando pelo eco abafado do carvão batendo em atabaques – tambor artesanal de sua comunidade no Cabula, Salvador –, suas instalações evocam paisagens de desordem que revelam extração, consumo e destruição humanos.
Artista autodidata conhecido por utilizar caixas de fósforo recicladas, Társis trabalha com materiais encontrados, tanto nas colagens quanto nas assemblages suspensas. Presentes em seus primeiros trabalhos e baseados na experiência vivida em uma favela do Norte do Brasil, caixas de fósforo e lixo eletrônico carregam histórias de trabalho e o peso da experiência humana. Uma caixa de fósforos cheia vira um instrumento: o chacoalhar dos palitos se junta às camadas rítmicas de uma paisagem sonora construída. Materiais como metal, papel, cimento e fogo se encontram para compor um coro cru, bruto e experimental em sua composição. Chamadas pelo artista de “caos coletivo”, essas ativações sonoras emergem de pontos de destruição em estágios mutáveis de início, clímax e, por fim, catástrofe. Ainda assim, em seu cerne, a persistência da vida reverbera em uma sinfonia quase silenciosa, na qual notas pequenas e imperceptíveis sinalizam continuidade frente à ostracização colonial e política.
Radicado em Londres, Társis repensa as implicações das práticas de trabalho internacionais – traçando conexões entre comunidades do Sul e do Norte globais – e sobretudo o legado da mineração. Em sua exposição de 2024 na Carlos/Ishikawa, Storm in a Teacup [Tempestade em copo d’água], a instalação de Társis apontava para a combustão iminente de um império que devora a si mesmo. Complexas e ambíguas, cascas de caixas de fósforo montadas em tons alternados de vermelho e azul flutuavam ao lado de uma bandeira instalada, sem nação e adornada por uma constelação de peças eletrônicas.
Continuando a romper com hierarquias nacionalistas, Társis nos confronta com um deserto sem fronteiras, onde vestígios da ganância humana e da corrupção socioeconômica são revelados em cada item descartado. Nesse ato sinuoso de construção de ambiente, não só o invisível é desenterrado, mas as repercussões sonoras do nosso impacto coletivo se tornam palpáveis.