Em sua prática artística, Andrew Roberts trabalha com a materialidade do horror, em uma abordagem multidisciplinar: tão investigativa quanto poética, tão próxima da construção de mundos nos videogames quanto do campo tátil da escultura. Sua ideia de horror é influenciada tanto pelo complexo industrial de Hollywood e dos jogos eletrônicos quanto pelas narrativas vernaculares e sangrentas sobre a violência no norte do México (como as escritas no século 20 por Nelly Campobello) e pela estranha ficcionalização de grandiosos conflitos nacionais nas obras de Fernanda Melchor e Mariana Enríquez. Como explica o filósofo Eugene Thacker, os “demônios” exigem uma “estranha intimidade” que permanece conosco, que satura o sinal com ruído: a anti-mediação da hipercomunicação, que confunde a realidade, misturando o natural e o sobrenatural em nossa percepção do mundo.
Para Roberts, isso se mescla ao que ele chama de “realismo espectral”, um interesse aguçado pelos aspectos do horror que se situam além da lógica estruturada da racionalidade humana. Nesse sentido, sua obra trata de substâncias extra-humanas, ou materialidades, cujo comportamento ultrapassa esses limiares. No vídeo, vemos três entidades espectrais, não exatamente fantasmas, que escolhem se manifestar em uma lanchonete, localizada em uma fronteira tão violenta quanto cotidiana. Um ponto de encontro conveniente, com cheiro de hambúrguer, onde famílias divididas, trabalhadores transfronteiriços e estudantes se reúnem. A aparência flutuante desses espectros evidencia sua ingovernabilidade, sua agência entrelaçada: eles assombram e são assombrados. Uma das entidades encarna uma escuridão profunda, pairando e se movendo, indo e vindo, tornando-se uma fronteira visual clara entre o conhecido e o desconhecido. Outra é feita de borracha, matéria-prima de brinquedos, uma parente distante do plástico e do petróleo, elástica e resiliente, estranhamente maleável e de natureza descartável. A última personifica aquela luz vermelha familiar e, ainda assim, alarmante, tão comum em propagandas quanto nos indícios claros de que um derramamento de sangue se aproxima, como representado nos filmes de terror contemporâneos. A expografia feita para o vídeo replica o mobiliário fixo e utilitário das franquias de fast-food, mas também evoca arranjos carcerários, lembrando-nos daquela outra violência presente em zonas fronteiriças. Seus cantos arredondados também dialogam com as sessões espíritas da modernidade, onde os mortos são contactados e mediados, conjurando também os fantasmas do passado minimalista da arte.