Amina Agueznay desenvolve uma prática artística profundamente enraizada no saber artesanal e nas histórias humanas que o moldam. Seu trabalho parte de uma abordagem de campo que privilegia a imersão, a troca e o compartilhamento de habilidades com artesãos de diversas regiões do Marrocos. Há quase três décadas, ela tece um diálogo entre técnicas vernaculares e formas contemporâneas, explorando as dinâmicas de transmissão e transformação que estão no centro das práticas tradicionais. A experimentação constante com materiais é o cerne de seu processo. Lã, hena, prata, pedra e fibras vegetais são vetores de uma reflexão sobre memória, lugar e transformação. Por meio desses materiais vivos, Agueznay questiona gestos herdados, reconfigura-os e os converte em formas que dialogam com o espaço. As obras modulares, muitas vezes concebidas como conjuntos, refletem um desejo de continuidade e metamorfose. Cada instalação e cada objeto encarnam um equilíbrio delicado entre o respeito pelo legado técnico (ou conhecimento ancestral) e sua reinvenção dentro do contexto contemporâneo.
As interações de Agueznay com artesãos vão além da produção de obras – representam uma pesquisa coletiva em que a expertise não é apenas valorizada, mas também questionada e expandida. A transmissão torna-se um ato criativo, uma troca que transcende o ateliê ou a cooperativa e abre espaço para reflexões mais amplas sobre o papel da tradição em nossas sociedades contemporâneas. Suas instalações modulares, têxteis, escultóricas ou ornamentais exploram a temporalidade e a flexibilidade. Elas são montáveis, reconfiguram-se e se reinventam, como uma paisagem em transformação perpétua. Agueznay brinca com a escala e o volume, alternando entre a monumentalidade e a intimidade, a estrutura e o detalhe, criando ambientes imersivos que envolvem física e sensorialmente o espectador no material e em seu potencial narrativo.
Ela concebe a arte como um espaço de experimentação em que a tradição e a inovação coexistem. Seu trabalho celebra tanto a excelência do artesanato quanto a força de um propósito comum, afirmando a importância de um diálogo contínuo entre passado e presente, entre a mão que molda e a mente que imagina. Para além da forma e do material, a prática de Agueznay é uma meditação sobre o humano como força dinâmica, engajada na interação e na busca incessante. Por meio de encontros e trocas, suas obras desconstroem assimetrias, convidando a um mundo onde a transmissão não é um ato estático, mas uma negociação viva entre saber, experiência e sensibilidade. Nesse espaço de cocriação, a alegria e a beleza não são apenas enfeites: são forças gravitacionais, atos políticos que sustentam o equilíbrio de nossos mundos. Amina Agueznay nos convida a imaginar um futuro ancorado em nossa humanidade compartilhada, tecido a partir da tradição e do devir, da matéria e da memória, do indivíduo e da comunidade.