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6 set 2025–11 jan 2026
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Aline Baiana

Aline Baiana

Rita Vênus

 

A obra de Aline Baiana, interessada em investigar os conflitos entre o Norte e o Sul globais numa perspectiva de justiça social, denuncia o impacto ambiental do processo de industrialização. Seu trabalho se junta aos depoimentos de pescadores, marisqueiras, artesãos e aliados da luta quilombola, amplificando a voz dessas narrativas de resistência.

Ouro negro é a gente (2025), filme apresentado nesta 36ª Bienal de São Paulo, expõe as contradições da lógica desenvolvimentista a partir da extração do petróleo no Brasil e o seu rastro de violência ambiental contra as populações quilombolas nos territórios explorados. Na ilha de Maré, na Baía de Todos-os-Santos, a comunidade busca manter seu modo de vida em defesa do ecossistema local, ao passo que vem sendo gravemente afetada pela industrialização e pelo chamado “progresso”. Ao mesmo tempo que as grandes obras de infraestrutura, como a refinaria de Mataripe e o porto de Aratu, são celebradas como símbolos de avanço, elas são reveladas como fontes de destruição e de racismo ambiental para as comunidades tradicionais, que têm visto seu território sendo degradado de modo sistemático.

Ao questionar o conceito de “riqueza”, a artista reflete sobre os valores que sustentam o modelo de desenvolvimento imposto pelas elites. A imersão nos depoimentos dos que lutam por sua sobrevivência diante de um sistema que os marginaliza revela uma dura crítica à forma como o capitalismo perpetua a desigualdade e a exploração. O filme, assim, reatualiza uma história de luta, na medida em que lança um questionamento radical sobre as narrativas oficiais de progresso e desenvolvimento.

Ouro negro é a gente olha além das promessas de modernização e reflete sobre as consequências sociais, ambientais e culturais de um modelo que continua a marginalizar aqueles que, historicamente, têm sido deixados para trás. O filme nos desafia a repensar o significado de riqueza e a quem ela realmente serve.

Rita Vênus
Uma sala escura com vídeo projetado. No vídeo, uma cena em preto e branco de um maquinário industrial.
Vista de Ouro negro é gente, de Aline Baiana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma sala escura com vídeo projetado. No vídeo, uma mulher negra de cabelos grisalhos e camiseta roxa da entrevista.
Vista de Ouro negro é gente, de Aline Baiana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo
Uma sala escura com vídeo projetado. No vídeo, mulher negra de cabelos cacheados, roupas brancas e óculos da entrevista.
Vista de Ouro negro é gente, de Aline Baiana, durante a 36ª Bienal de São Paulo © Natt Fejfar / Fundação Bienal de São Paulo

Aline Baiana (Salvador, 1985. Vive entre Salvador, Rio de Janeiro e Berlim) desenvolve uma prática artística colaborativa e baseada em pesquisa, que investiga o conflito ontológico entre o Norte e o Sul globais. Com foco em saberes tradicionais, seu trabalho reúne histórias, materiais e ideias, valorizando o cuidado e a criação coletiva. Sua metodologia resiste a sistemas de homogeneização e apagamento, adotando a troca, a fluidez e a coautoria como princípios fundamentais. A produção de Aline Baiana questiona o excepcionalismo humano, contribuindo para o imaginário de um mundo onde caibam muitos mundos. Participou de exposições no Brasil, Europa e Ásia Ocidental, incluindo a 14ª Bienal de Sharjah e a 11ª Bienal de Berlim. Sua obra integra coleções como a da Kadist (Paris, San Francisco) e a dos Amigos da Nationalgalerie (Berlim). Sua pesquisa recebeu apoio do Berliner Förderprogramm Künstlerische Forschung.