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6 set 2025–11 jan 2026
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Alexandre Paulikevitch

Alexandre Paulikevitch

Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

 

Um ombro gira, deliberado; um olhar prolongado, depois rompido. O cabaré não começa com fanfarras, mas com uma mudança de atenção: para o corpo, seus códigos, sua recusa em se manter na linha. Com frequência menosprezado como forma menor, o cabaré historicamente se tornou território teatral da dissidência, da exploração de gênero e do que não podia ser dito de outro modo. Na Casa do Povo, o cabaré carrega sua própria linhagem, enraizada não só na história do teatro político da casa, mas também nas tradições da diáspora judaica, em que a sátira, o canto e o palco se tornaram formas de sobrevivência e crítica. Nesse encontro singular, Alexandre Paulikevitch e MEXA trazem seu trabalho contemporâneo sobre o cabaré, mantendo a energia dessa forma não como sedução, mas como inquietação.

Paulikevitch, nascido e radicado em Beirute, é um dos poucos artistas homens que trabalham com a tradição do baladi, frequentemente reduzido pelo olhar colonial à “dança do ventre”, fazendo disso um ato de reclamação política. Sua dança é lenta, sinuosa, atenta ao olhar que tenta fixá-la. Por meio de quadris, respiração e repetição, ele desfaz as camadas de orientalismo e homofobia que historicamente tentaram disciplinar sua forma. Seu trabalho abre espaço para a suavidade como estratégia, a sensualidade como resistência e a ambiguidade como verdade. Assistir a suas performances é perceber o quão profundo é o arquivo do corpo e quanto precisa ser dançado para fora dele.

Nascido das ruas e abrigos de São Paulo, MEXA é um coletivo forjado na urgência. Investigando a criação de ficções a partir de identidades próprias, o grupo composto majoritariamente de pessoas trans e queer foi moldado pela negligência e violência do Estado brasileiro. MEXA cria formas teatrais, na Casa do Povo e em turnês internacionais. Cantando, fazendo playback, encenando, criam reelaborações barulhentas e indisciplinadas de mitos pessoais e coletivos.

Neste projeto concebido para a 36a Bienal de São Paulo, fruto de residência compartilhada, Paulikevitch e MEXA apresentam duas noites de práticas e narrativas entrelaçadas: corpos que se afastam ou insistem em ser vistos; identidades que se transformam em coreografias, improvisadas, relacionais, com a consciência de que o teatro deve permanecer inacabado, poroso ao desejo e ao ruído do presente. Juntos, ressignificam o cabaré como forma nascida à margem das instituições, sempre excessiva, queer e barulhenta demais. Com eles, o cabaré se torna o que sempre ameaçou ser: um ensaio para outro modo de estar juntos.

Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay
Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

Alexandre Paulikevitch (Beirute, 1982. Vive em Beirute) é bailarino e coreógrafo. Formado em teatro e dança pela Université Paris 8, desenvolve uma prática centrada na dança baladi, frequentemente reduzida pelo olhar colonialista ao termo “dança do ventre”, como linguagem contemporânea e politicamente engajada. Em sua pesquisa coreográfica, a sensualidade atua como resistência, e a ambiguidade como forma de verdade. Apresenta-se em espaços que vão de festas underground a festivais e museus. Realizou colaborações com artistas como Nancy Naous, Joelle Khoury, Cecilia Bengolea, Xavier Le Roy e Simone Forti, entre outros, e participou de eventos como o Festival d’Avignon.