Em uma tarde de sexta-feira de Carnaval, Akinbode Akinbiyi caminhava pela rua Três Rios quando se sentiu intrigado por um emaranhado de cabos em um poste de eletricidade. Além do peso da fiação, o poste sustentava uma placa indicando a direção de duas regiões de São Paulo: o parque Dom Pedro, no centro histórico, e o Canindé, bairro retratado por Maria Carolina de Jesus em Quarto de despejo e atualmente bom retiro da comunidade boliviana. Essa partícula de vida cotidiana daquela rua chamou sua atenção, fazendo-o registrar o momento com uma câmera fotográfica Rolleiflex, sobre o que depois comentou: “Thank you for waiting, André”. Essa é uma das primeiras imagens do ensaio fotográfico de Akinbode Akinbiyi comissionado para a 36a Bienal de São Paulo.
Uma rua que se diz o encontro de três rios é o estuário que o viandante Bode escolheu circum-navegar durante seis semanas na cidade. Esse encontro de ruas, pessoas experiências e expectativas é o principal vetor de conexão de Akinbode com as cidades que habita, visita e fotografa. É isso o que faz dele essencialmente um “street photographer”, disposto a captar na película sensível da fotografia analógica as particularidades desse acordo de milhões de pessoas em viver umas com as outras em uma megacidade. Uma prática fotográfica que Akinbode realiza desde os anos 1970; um processo lento e contínuo que já percorreu Lagos, Cairo, Berlim, Dacar, Joanesburgo, Chicago, Bamako e outras – e agora São Paulo.
No encontro dos rios, a Casa do Povo. A velocidade do funcionamento de uma metrópole e o tempo detido do pensar e fazer fotográficos poderiam ser opostos, mas evidenciam os ritmos da cidade e de suas populações. Como uma experiência de ampliar o tecido social de São Paulo, Akinbode Akinbiyi conviveu e acompanhou as atividades dos muitos grupos, associações e coletivos que atuam no centro cultural Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro. O clube de xadrez, os ensaios do coral em ídiche, os treinos de boxe, o parquinho gráfico…
O que esperar do ensaio fotográfico sobre os povos de São Paulo? O que essa cidade insana, conservadora e diversa ofereceu ao fotógrafo? Ou o que se recusou a mostrar a ele, ingenuamente acreditando esconder a sua particular dinâmica urbana do olhar generoso de Akinbode? Essas perguntas surgiram ao perceber que, enquanto a fotografia do poste da rua Três Rios era feita, ela permanecia virtual, em potência, e seria atualizada no espaço expositivo do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, provavelmente no momento em que você lê este pequeno texto. A fotografia do encontro dos três rios estava lá?