O vídeo I understand [Eu entendo] (2020), de Hao Jingban, começa com uma mensagem simples: “Para meu amigo”, gravada com a própria voz da artista. Essa dedicatória íntima estabelece o tom para todo o filme de 21 minutos, que se desdobra em imagens de arquivo, reportagens e trechos de redes sociais de um passado recente tão turbulento quanto instigante, levantando questões sobre como nos comportamos e, sobretudo, como agimos diante de uma violência iminente e generalizada.
O documentário funciona como uma espécie de testemunho. No auge da pandemia, inúmeras tensões sociopolíticas se desencadearam, e as desigualdades de classe e raça ficaram escancaradas. Em meio à crise, o movimento Black Lives Matter eclodiu, e Hao incorporou em seu trabalho imagens de arquivo de protestos nos Estados Unidos. Os ensinamentos, conflitos e pontos de consenso do movimento são apresentados e compartilhados com o público de forma empática. Essas imagens se entrelaçam com uma gravação de Max Roach e Abbey Lincoln interpretando a canção “Tears for Johannesburg” [Lágrimas para Joanesburgo], além da célebre declaração de Nina Simone de que “o dever do artista é refletir os tempos”; duas articulações distintas da busca por liberdade e fraternidade.
A obra foi criada durante uma residência artística que Hao realizou em Berlim no primeiro ano da pandemia de covid-19. I understand surge como um resultado direto de sua experiência como uma artista chinesa enfrentando a intensa discriminação racial do Ocidente contra cidadãos chineses. Hao encontrou solidariedade ao se juntar a um movimento que se manifestava contra a segregação e o racismo, fazendo com que I understand ecoasse diversos outros projetos de colaboração e união entre artistas negros e asiáticos em momentos históricos críticos do século 20.