Cinémathèque Afrique
O conceito da 36ª Bienal de São Paulo propõe pensar e perceber o mundo a partir do ponto de vista e do prisma do Brasil – suas histórias, paisagens, filosofias, mitologias e complexidades. O Brasil, como construção ficcional e simbólica, emerge como uma confluência de muitos mundos e suas tangentes. O espaço físico e filosófico do estuário é adotado como metáfora para esta edição da Bienal, evocando uma condição cultural moldada por encontros, negociações e trocas entre diversas zonas de influência. Esses processos deram origem a técnicas e temas que transcendem noções de etnia e nacionalidade.
No contexto da Saison France-Brésil 2025 e em colaboração com a Cinémathèque Afrique, Stream of Images / Imaginaries [Fluxo de imagens / Imaginários] foca na história compartilhada entre o Brasil, o Caribe e a África, e em como essa esfera transcontinental de influência mútua continua a reverberar nas práticas culturais e nos imaginários das comunidades dessas regiões até os dias de hoje. Um comitê de seleção composto de seis especialistas em práticas de imagem em movimento no Brasil, no Caribe e nas regiões norte e oeste da África – cada um com sua especialidade, como narrativas panafricanas, cinema de arquivo ou vozes queer – desenvolveu de forma coletiva um programa de filmes que coloca obras contemporâneas e históricas em diálogo, estruturado em quatro capítulos: Território e soberania, O que resta de nós, Corpos em movimento: som, luta e espaço social e Era uma vez no futuro. Os filmes destacam a relação entre as pessoas e o território, exploram como fragmentos de histórias e memórias persistem ao longo das gerações e se manifestam em gestos e rituais cotidianos, e mostram como o corpo se torna tanto linguagem quanto campo de batalha.
Os quatro programas temáticos serão apresentados no auditório do Pavilhão alternadamente aos domingos e, uma vez por mês, uma das sessões será acompanhada por uma mesa-redonda com membros do comitê de seleção e alguns dos respectivos cineastas. Em paralelo à apresentação na Bienal de São Paulo e no âmbito da Saison France-Brésil 2025, o programa de filmes será também exibido na La Friche la Belle de Mai (Marselha), e posteriormente seguirá para diversos locais no continente africano e no Caribe. Nessas localidades, será apresentado em formato expandido, com conversas envolvendo artistas participantes e representantes do comitê de seleção.
Comitê de seleção: Aude Christel Mgba, Débora Butruce, Elisabeth Gustave, Heitor Augusto, Jihan El-Tahri e June Givanni.
Stream of Images / Imaginaries conta com o apoio do Ministério das Relações Exteriores / Instituto Guimarães Rosa, da Embaixada da França no Brasil e do Institut français, como parte da Saison France-Brésil.
Território e soberania
Observando diferentes comunidades do Senegal, Brasil, França, Guadalupe e Moçambique, este bloco destaca a relação entre populações e territórios, expondo o papel do colonialismo e do capitalismo na privação do direito de viver com dignidade e de exercer autonomia sobre a terra:
Contras’ City [Cidade dos Contrastes] (22’, Djibril Diop Mambety, 1969)
Estamos todos aqui (20’, Chica Andrade and Rafael Mellim, 2017)
Les Princes noirs de Saint-Germain-des-Prés [Os Príncipes Negros de Saint-Germain-des-Prés] (14’, Ben Diogaye Beye, 1975)
Listen to the Beat of Our Images [Escute a pulsação de nossas imagens] (11’, Audrey Jean-Baptiste and Maxime Jean-Baptiste, 2021)
Plantar nas estrelas (11’, Geraldo Sarno, Brazil/Mozambique, 1979)
O que resta de nós
Investiga como comunidades marginalizadas se reinventam e se transformam ao longo do tempo, criando gestos e rituais cotidianos a partir de fragmentos da história. Mais do que falar da perda, esses filmes celebram vozes e práticas que resistem ao apagamento, encarnando reinvenção, empatia e persistência diante da violência estrutural.
Ici s’achève le monde connu [Aqui termina o mundo que conhecíamos] (16’, Anne-Sophie Nanki, 2022)
Geruzinho (15’, Juliana Teixeira, Luli Morante, Rafael Amorim, 2022)
Les Escuelles (11’, Idrissa Ouedraogo, 1983)
A Lesson in History (5’, Maybelle Peters, 1990)
Leave the Edges (40’, Baff Akoto, Ghana/UK, 2020).
Corpos em movimento: som, luta e espaços sociais
Reúne filmes em que o corpo se torna simultaneamente linguagem e campo de batalha, carregando histórias, navegando por restrições e reivindicando espaço por meio da dança, do trabalho, do protesto e do ritual. Aqui, o som é habitado e o espaço é moldado pelo movimento.
Nossa escola de samba (30’, Manuel Gimenez, 1965)
Ughniyat Touha al-Hazina [Canção Triste de Touha] (12’, Atteyat Al-Abnoudy, 1973)
Lamb: La Lutte (15’, Paulin Vieyra, 1963)
Recife de dentro pra fora (17’, Katia Mesel, 1997)
Era uma vez no futuro
Apresenta obras de Guadalupe, Martinica, República Democrática do Congo, Brasil e Reino Unido, explorando o futuro por meio de um entrelaçamento sonoro, visual e filosófico. Esses filmes imaginam e reivindicam futuros diante da necropolítica e das rupturas da modernidade.
Fouyé Zétwal [Plowing the Stars] (14’, Wally Fall and Anyès Noèl, 2020)
Kaka Yo (28’, Luc Siassia and Sébastien Kamba, 1965)
Kila & Mauna (19’, Ella Monstra, 2023)
The Last Angel of History (45’, John Akomfrah, 1996)
Em São Paulo
No Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o programa se estenderá por todo o período da 36ª Bienal de São Paulo, com exibições em todos os fins de semana, cada um dedicado a um bloco diferente. A abertura acontece em 8 de setembro, das 14h30 às 17h, no Auditório da Bienal, com a exibição dos filmes do bloco Território e Soberania, seguida de mesa de debate com Débora Butruce, Heitor Augusto, Anna Roberta Goetz e Thomas Sparfel.
Em Marseille
Nos dias 19 e 20 de setembro, o programa ocupa o Petit Plateau da Friche la Belle de Mai. Dia 19, das 18h às 19h20: exibição dos filmes do bloco Território e Soberania, seguida de debate com Chica Andrade & Rafael Mellim, Heitor Augusto e Wasis Diop. Dia 20, das 18h às 19h20: exibição dos filmes do bloco Corpos em movimento, seguida de mesa com Katia Mesel e Debora Butruce. O encerramento contará com um DJ set de Gombaxx, das 21h à meia-noite, no espaço Les Grand Tables.
Programação Temporada França-Brasil: Fluxo de imagens / Imaginários
Auditório do Pavilhão
8 de setembro de 2025
14h30 – 17h: exibição dos filmes do bloco Território e Soberania, seguida de mesa de debate com Débora Butruce, Heitor Augusto, Anna Roberta Goetz e Thomas Sparfel.
La Friche la Belle de Mai
19 de setembro de 2025
18h – 19h20: exibição de filmes
19h30 – 20h30: mesa com Chica Andrade & Rafael Mellim, Heitor Augusto e Wasis Diop
20 de setembro de 2025
18h – 19h20: exibição de filmes
19h30 – 20h30: mesa com Katia Mesel e Debora Butruce
21h – meia-noite: DJ set com Gombaxx
Entrada Jobin (acesso de pedestres e bilheteria): 41 Rue Jobin, 13003 Marselha
Entrada Simon (acesso de pedestres e estacionamento restrito): 12 Rue François Simon, 13003 Marselha
entrada gratuita
