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A primeira Invocação da 36ª Bienal de São Paulo acontece em Marrakech

A primeira Invocação da 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas Da humanidade como prática acontecerá em Marrakech, no Marrocos, nos dias 14 e 15 de novembro. Intitulada Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa, a Invocação traz como temas a circularidade e a precariedade da respiração, a música Gnawa como modo de ser, as culturas sufis e a escuta como prática de coexistência, assim como a criação de lugares e espaços. 

A Invocação é concebida pela equipe conceitual da 36ª Bienal de São Paulo em colaboração com LE 18 e Fondation Dar Bellarj, como parte de suas práticas curatoriais ao explorar som e música como canais de conhecimento. Organizada em parceria com a LE 18 e a Fondation Dar Bellarj, a Invocação conta com a participação de Maalem Abdellah El Gourd, Fatima-Zarah Lakrissa, Ghassan El Hakim, Kenza Sefrioui, Laila Hida, Leila Bencharnia, Maha Elmadi, Mourad Belouadi, Simnikiwe Buhlungu e Taoufiq Izeddiou.

Marrakech é uma encruzilhada de culturas, crenças e línguas, com grande parte de seu vasto conhecimento sendo transmitido através do som e do gesto. A primeira Invocação explora como essas tradições sônicas (orais e auditivas) são performadas, preservadas e passadas adiante. As práticas ancestrais de escuta profunda – dos rituais performativos da irmandade Gnawa à tradição oral de Halqa na forma de teatros norte-africanos – servem como ponto de partida desta edição.

O título é emprestado de “Souffles”, um poema de Birago Diop sobre o potencial de escutar uma abundância de seres – animados e inanimados –, mas também uma revista pioneira que ousou imaginar a liberação e imaginários políticos emancipatórios por meio da poesia e da experimentação com a linguagem. Fundada no Marrocos em 1966 e inspirada por pensadores como Frantz Fanon, Mário de Andrade e René Depestre, ela foi a primeira do gênero a documentar as tradições orais supracitadas até sua última edição em 1971.

Para Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa, um grupo de agentes culturais de diferentes disciplinas, como escritores, músicos, artistas, poetas, assim como cientistas, foi convidado para contribuir com seus conhecimentos ao programa discursivo e performativo. Ademais, será investigado como essas tradições foram acessadas e preservadas em meios distintos ao longo dos anos, incluindo em publicações.

A programação está dividida em dois dias, 14 e 15 de novembro: o primeiro focado na prática espiritual da escuta, ao ritmo e à sua ressonância no corpo, e o segundo na respiração para reivindicar espaços e existências e no legado da revista Souffles [em português, sopro, fôlego, ou ainda respiração]. 

Esta Invocação acontecerá no LE 18, um espaço cultural multidisciplinar e residência artística estabelecido em 2013 em meio à Medina de Marrakech, e na Fondation Dar Bellarj, um centro cultural dedicado à valorização do patrimônio arquitetônico, artístico e cultural do Marrocos por meio de uma programação e abordagem pedagógicas, inclusivas e comunitárias.

Confira abaixo a programação:

14 nov 2024, qui, LE 18

11–12h Introdução por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, leitura de poesia por Alya Sebt, seguida por sessão coletiva de escuta de poesia e de Maalem guembri

12–13h Quem é Ahmed Ben Draoui? Leitura performática sobre ficção e representação da origem por Laila Hida com Mourad Belouadi

15–16h30 Palestra por Ghassan El Hakim sobre sua pesquisa contextualizando a prática do mestre Gnawa Maalem Abdellah El Gourd

17–18h Palestra-performance por Simnikiwe Buhlungu sobre síntese, entonação e looping

18h30–19h Introdução e exibição do filme La terre en transe de Taoufiq Izeddiou

19h30–21h Gnawa novamente! Performance por Ghassan El Hakim com mestre Gnawa Maalem Abdellah El Gourd acompanhados pelo multi-instrumentista Mourad Belouadi

15 nov 2024, sex, LE 18 e Fondation Dar Bellarj

10–11h Leitura coletiva de poesia de Abdellatif Laâbi com Kenza Sefrioui [LE 18]

11–12h Palestra-performance por Kenza Sefrioui sobre o legado de Souffles [LE 18]

12–13h Palestra por Fatima-Zahra Lakrissa sobre a revista Maghreb Art [LE 18]

15–16h30 Sessão de escuta por Leila Bencharnia [LE 18]

17h30–18h30 Fala inaugural por Maha Elmadi e exibição de vídeo de Laila Hida [Fondation Dar Bellarj]

18h30–19h30 Hadra, performance final com Lalla Khala e as Gifted Mothers of Dar Bellarj [Fondation Dar Bellarj]

 

Sobre as Invocações

Em preparação para a 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, e para introduzir e afinar-se com a trama conceitual, uma série de programas públicos chamados Invocações acontecerão em quatro diferentes cidades ao redor do mundo: Marrakech, Marrocos; Les Abymes, Grande-Terre, Guadalupe; Zanzibar, Tanzânia; e Tóquio, Japão.

Cada edição espelha o conceito da exposição de Humanidade como prática a partir de um contexto local específico, reconfigurando-o e expandindo-o por meio de eventos ao vivo e uma publicação. O objetivo das Invocações é de expandir o vocabulário da humanidade, em pontos de interseção entre diferentes longitudes e latitudes.

Se a humanidade fosse um verbo, como ela seria conjugada nessas distintas geografias? O diretor senegalês Djibril Diop Mambéty uma vez descreveu o cinema – e portanto, a arte – como “la grammaire de ma grande mère” [a gramática da minha avó], em alusão à familiaridade da arte, os aspectos intergeracionais das práticas artísticas, o coloquialismo da arte e a arte/prática artística enquanto gramática. As quatro Invocações exploram como os fazeres artísticos ao redor do globo ajudam a situar, enriquecer e expandir essas gramáticas.

 

Sobre os participantes

Abdellah Boulkhair El Gourd é mestre Gnawa e músico, nascido em 1947 na Kasbah de Tânger, Marrocos. Ele ganhou reconhecimento internacional graças às suas performances junto a jazzmen lendários, incluindo o pianista e compositor afro-americano Randy Weston. Em 1980, El Gourd, desejando preservar a cultura Gnawa, abriu “Dar Gnawa” na medina de Tânger, um centro cultural musical e museu, assim como centro para o aprendizado e transmissão de jovens músicos.

Fatima-Zahra Lakrissa é curadora independente e pesquisadora, interessada na história da arte moderna europeia e na construção do modernismo marroquino. Sua pesquisa foca a sociologia e a histórica da vanguarda artística no Marrocos nas décadas de 1960 e 1970.

Ghassan El Hakim é ator e diretor. Ele fundou a trupe Jouk Attamthil Al Bidaoui e o show Kabareh Cheikhats, uma ode às dançarinas e cantoras tradicionais. Desde então, ele fez parte de diversas conferências internacionais sobre música popular no Marrocos e o efeito da colonização na cultura musical de povos antigamente ocupados.

Kenza Sefrioui é jornalista cultural, crítica literária e editora. É responsável pela seção de literatura do jornal Hebdomadaire. Sua tese de doutorado em literatura comparativa na Universidade de Paris IV analisa a revista “Souffles” (1966–1973).

Laila Hida é uma artista baseada em Marrakech, onde ela fundou LE 18 em 2013. O trabalho de Hida usa espaços e narrativas privadas para explorar o lugar do indivíduo em uma sociedade dominada pela mudança. Ela investiga projeções e fricções de desejo, ideias e conceitos em contextos locais e ocidentais por meio de projetos de curadoria, publicações, instalações e fotografia.

Leila Bencharnia é artista sônica, intérprete acústica e música nascida no Marrocos e baseada em Milão, Itália. Filha de um músico tradicional marroquino, seu diálogo com som começou numa vila próxima às montanhas do Atlas onde passou sua infância. Seu trabalho sônico é composto de materiais analógicos incluindo fitas-cassete, vinil e sintetizadores.

Maha Elmadi é diretora da Fondation Dar Bellarj desde 2007, sucedendo sua fundadora Susanna Biedermann, com quem ela começou sua carreira. Desde então, ela perseguiu a missão de sua precursora de construir uma comunidade transgeracional em torno de questões de transmissão e vizinhança. Entre seus muitos projetos e conquistas, ela foi a estabelecedora do grupo e conceito Mamans douées, e fundou o festival Achoura.

Mourad Belouadi é multi-instrumentista, fotógrafo, atualmente baseado em Sale, Marrocos, filho de um músico Gnawa. Ele estudou e viajou com mestres Gnawa e embarcou em carreira solo, constantemente aprendendo e dominando novos instrumentos, por vezes até construindo-os ele mesmo.

Simnikiwe Buhlungu é uma artista de Joanesburgo, cujas obras abordam a produção e pesquisa de filmes, sons, instalações e texto. Seu trabalho busca levantar questões importantes sobre a natureza do conhecimento e sua disseminação, bem como o contexto e circunstâncias que orbitam a epistemologia fenomenológica.

Taoufiq Izeddiou, coreógrafo, se inspira em dança e música ritualísticas que buscam a transcendência e autotranscendência por meio do transe. A respiração é a fonte primária da prática de Hmadcha, uma irmandade criada no fim do século 17 no Marrocos. O fundador do festival On Marche combina tradição e pesquisa contemporânea em suas criações.

 

Serviço
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas Da humanidade como prática
Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus

Invocação #1 – Marrakech, Marrocos
Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa
14 –15 nov 2024

LE 18
qui, 11h–21h
sex, 10h–16h30
Riad Laarouss, 18 Derb El Ferrane

Fondation Dar Bellarj
sex, 17h30–19h30
9 Toualat Zaouiat lahdar
Marrakech, Marrocos

entrada gratuita

O título da 36ª Bienal de São Paulo, “Nem todo viandante anda estradas”, é formado por versos da escritora Conceição Evaristo

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