de São Paulo
Gratuita
11.1.2026
Sobre a
36ª Bienal
Intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, a edição será conduzida pelo curador geral Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung com sua equipe de cocuradores composta por Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além da cocuradora at large Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus. A mostra se inspira no poema enigmático da poeta afro-brasileira Conceição Evaristo, “Da calma e do silêncio”.
A proposta central dessa Bienal é repensar a humanidade como verbo, uma prática viva, em um mundo que exige reimaginar as relações, as assimetrias e a escuta como bases de convivência a partir de três fragmentos/eixos curatoriais. A metáfora do estuário – local onde diferentes correntes de água se encontram e criam um espaço de coexistência – guia o projeto curatorial, inspirado nas filosofias, paisagens e mitologias brasileiras. Tal conceito reflete a multiplicidade de encontros que marcaram a história do Brasil e propõe que a humanidade se una e se transforme por meio de uma escuta atenta e da negociação entre seres e mundos distintos.
Esta edição da Bienal de São Paulo está estruturada como um projeto de pesquisa que irá se manifestar em três fragmentos/eixos. O primeiro fragmento/eixo curatorial defende reivindicar o espaço e o tempo, busca desacelerar e prestar atenção aos detalhes e outros seres que constituem nosso ambiente. Situando-se dentro do poema “Da calma e do silêncio”, de Conceição Evaristo, esse eixo evoca a importância de explorar os mundos submersos que apenas o silêncio da poesia e a escuta poética podem acessar, acolhendo as diferenças e sugerindo uma reconexão com a natureza e suas sutilezas.
No segundo fragmento/eixo, a Bienal convida o público a se ver no reflexo do outro. A proposta é questionar o que vemos quando olhamos para nós mesmos e para os outros, confrontando as barreiras e fronteiras de nossas sociedades. Esse fragmento se baseia no poema “Une conscience en fleur pour autrui”, do poeta haitiano René Depestre, e explora a interconectividade das experiências, propondo uma coexistência mais atenta às necessidades coletivas.
Por fim, o terceiro fragmento/eixo se debruça sobre os espaços de encontros – como os estuários são espaços de múltiplas convergências, não apenas da água doce com a salgada, mas também o encontro do chamado Novo Mundo com as pessoas escravizadas sequestradas da África. Esse fragmento reflete sobre a colonialidade, suas estruturas de poder e suas ramificações em nossas sociedades atuais. Essa reflexão é baseada no movimento manguebit e em seu manifesto “Caranguejos com cérebro”, entendido como uma representação do cérebro social coletivo. A história do Brasil, marcada pela fusão de povos indígenas, europeus e africanos escravizados, é um microcosmo das assimetrias de poder que ainda persistem. Nesse sentido, a exposição explora como as culturas e as sociedades lidam com essas diferenças e criam novos caminhos de coexistência e beleza, como manifestado em “A beleza intratável do mundo”, de Patrick Chamoiseau e Edouard Glissant.

Sobre as Invocações
Como parte essencial de sua proposta curatorial, a 36ª Bienal de São Paulo conta com as Invocações: encontros com poesia, música, performance e debates que ecoam as ideias centrais da exposição, investigando e compreendendo noções de humanidade em diferentes geografias. A série de encontros é fruto de relacionamento com instituições culturais e precede a realização da mostra paulistana.
O ciclo inclui conversas, palestras, oficinas e performances em quatro localidades. Os dois primeiros eventos, apresentados em 2024, aconteceram em Marrakech e Les Abymes, Guadalupe. O primeiro encontro se deu no LE 18 e na Fondation Dar Bellarj, liderados por Laila Hida e Maha Elmadi, enquanto o segundo foi realizado em Lafabri’K, liderado por Léna Blou. Em 2025, acontecem as últimas duas Invocações, em Zanzibar, em parceria com a Dhow Countries Music Academy e co-organizada com Bernard Ntahondi, e Tóquio.
A primeira Invocação, intitulada Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa, foi realizada em 14 e 15 de novembro em Marrakech, e se trata de uma deliberação sobre três tópicos: a precariedade da respiração, as culturas Gnawa e Sufi, e a escuta como uma prática de coexistência.
A segunda Invocação, intitulada Bigidi mè pa tonbé! [Balança mas não cai!], aconteceu entre 5 e 7 de dezembro em Les Abymes, Guadalupe, e reflete sobre a inteligência do movimento dos corpos entre a ruptura e a adaptação para manter o equilíbrio em movimento em tempos de crise.
A terceira Invocação, que foi realizada em fevereiro de 2025, em Zanzibar, recebeu o título Mawali-Taqsim: A improvisação como espaço e tecnologia da humanidade. O encontro se baseia na percepção do taarab não apenas como um ritmo, mas como uma construção de encontros e múltiplas trocas que o território da Tanzânia e o Oceano Índico têm promovido.
A quarta e última Invocação, programada para abril de 2025, em Tóquio, é intitulada Bukimi No Tani (不気味の谷): O vale da estranheza – A afetividade do humanoide, traz reflexões e encontros sobre as dinâmicas do afeto entre humanos e não humanos, pessoas e máquinas, em um exercício de construção de coexistências, interações, distâncias e proximidades.
Esses encontros funcionarão como afluentes, convergindo para o corpo principal da 36ª Bienal em São Paulo, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo.

Souffles:
Sobre escuta profunda e recepção ativa
14–15 nov 2024
qui, 11–21h
sex, 10–19h30
LE 18 e Fondation Dar Bellarj
Marrakech
Com Maalem Abdellah El Gourd, Fatima-Zahra Lakrissa, Ghassan El Hakim, Kenza Sefrioui, Laila Hida, Leila Bencharnia, Maha Elmadi, Mourad Belouadi, Simnikiwe Buhlungu e Taoufiq Izeddiou
Intitulada Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa, a primeira Invocação da 36ª Bienal traz como temas a circularidade e a precariedade da respiração, a música Gnawa como modo de ser, as culturas sufis e a escuta como prática de coexistência, assim como a criação de lugares e espaços.
A Invocação é concebida pela equipe conceitual da 36ª Bienal de São Paulo em colaboração com LE 18 e Fondation Dar Bellarj, como parte de suas práticas curatoriais ao explorar som e música como canais de conhecimento.
Marrakech é uma encruzilhada de culturas, crenças e línguas, com grande parte de seu vasto conhecimento sendo transmitido através do som e do gesto. A primeira Invocação explora como essas tradições sônicas (orais e auditivas) são performadas, preservadas e passadas adiante. As práticas ancestrais de escuta profunda – dos rituais performativos da irmandade Gnawa à tradição oral de Halqa na forma de teatros norte-africanos – servem como ponto de partida desta edição.
O título é emprestado de “Souffles”, um poema de Birago Diop sobre o potencial de escutar uma abundância de seres – animados e inanimados –, mas também uma revista pioneira que ousou imaginar a liberação e imaginários políticos emancipatórios por meio da poesia e da experimentação com a linguagem. Fundada no Marrocos em 1966 e inspirada por pensadores como Frantz Fanon, Mário de Andrade e René Depestre, ela foi a primeira do gênero a documentar as tradições orais supracitadas até sua última edição em 1971.
Para Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa, um grupo de agentes culturais de diferentes disciplinas, como escritores, músicos, artistas, poetas, assim como cientistas, foi convidado para contribuir com seus conhecimentos ao programa discursivo e performativo. Ademais, será investigado como essas tradições foram acessadas e preservadas em meios distintos ao longo dos anos, incluindo em publicações.
A programação está dividida em dois dias, 14 e 15 de novembro: o primeiro focado na prática espiritual da escuta, ao ritmo e à sua ressonância no corpo, e o segundo na respiração para reivindicar espaços e existências e no legado da revista Souffles [em português, sopro, fôlego, ou ainda respiração].
Curador geral Bonaventure Soh Bejeng Ndikung
Cocuradores Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza
Cocuradora at large Keyna Eleison
Consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus
Assistentes de curadoria André Pitol, Leonardo Matsuhei
Produtor local Youssef Sebti
Assessoria de imprensa local Zora El Hajji
Realização Fundação Bienal de São Paulo
Bigidi mè
pa tonbé!
Balança
mas não cai!
5–7 dez 2024
qui, 18h – 20h
sex, 10h – 17h
sáb, 10h30 – 21h
Lafabri’k
Les Abymes, Grande-Terre, Guadalupe
Com Anaïs Verspan, Dory Sélèsprika, Fritz Naffer, Geordy Zodidat Alexis, Groupe Foubap, Lazaro Benitez, Dr. Léna Blou, Prof. Michelle Mycoo, Minia Biabiany, Olivier Marboeuf, Raymonde Torin, Santiago Quintana, Tiéno Muntu (Dr. Etienne Jean-Baptiste) e Yane Mareine
Dando continuidade às Invocações, série de encontros que percorrem quatro cidades do mundo e que antecipam a 36ª Bienal de São Paulo, no Pavilhão da Bienal, o evento chega a Guadalupe, território localizado na América Central. A edição, intitulada Bigidi mè pa tonbé! [Balança mas não cai!], será realizada entre os dias 5 e 7 de dezembro em Lafabri’k, um espaço dirigido pela coreógrafa, antropóloga e educadora Dra. Léna Blou, e terá a dança como fio condutor.
O conceito central desta Invocação parte do bigidi, prática fundamentada na dança guadalupense Gwoka. A dança, baseada na improvisação, alterna momentos de ruptura e continuidade em um constante esforço para manter o equilíbrio. Léna Blou, uma das principais referências dessa tradição, identifica no bigidi a essência da dança caribenha, que, segundo ela, “sabe estabilizar a instabilidade e transformar a desarmonia em harmonia”. Blou é a idealizadora de Bigidi’art, um conceito que conecta a dança a uma filosofia de vida que abraça a impermanência e a adaptação como formas de sobrevivência e resistência cultural.
A Invocação oferece uma extensa programação que reúne doze participantes de diversas áreas, incluindo dança, música, poesia, artes visuais e ciências, para compartilhar abordagens interdisciplinares em performances, palestras e oficinas.
Curador geral Bonaventure Soh Bejeng Ndikung
Cocuradores Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza
Cocuradora at large Keyna Eleison
Consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus
Assistentes de curadoria André Pitol, Leonardo Matsuhei
Diretora – Lafabri’k Léna Blou
Produtora local Hellen Rugard
Realização Fundação Bienal de São Paulo
Mawali–Taqsim:
Improvisação como espaço e tecnologia da humanidade
11–13 fev 2025
ter, 19–22h
qua, 10–19h45
qui, 10–21h15
Maru Maru Hotel e Golden Tulip Stonetown Boutique
Zanzibar
Com Aisha Bakary (Hijab DJ), Bernard Ntahondi, Bi Mariam Hamdan, DCMA Young Stars, Khamis Muhamed, Mohamed Ameir Muombwa, Mohamed Ilyas, Rukia Ramadhani, Siti Muharam, Thabit Omar Kiringe, Thania Petersen, Tryphon Evarist e Uwaridi Female Band
Apresentação por Mohamed Ameir Muombwa
A 36ª Bienal de São Paulo segue sua jornada global com a terceira Invocação, intitulada Mawali–Taqsim: Improvisação como espaço e tecnologia da humanidade, que acontecerá em Zanzibar de 11 a 13 de fevereiro de 2025. A Invocação será sediada pelos hotéis Maru Maru e Golden Tulip Stonetown Boutique, em parceria com a Dhow Countries Music Academy (DCMA).
A Invocação em Zanzibar destaca as dimensões filosóficas e artísticas do taarab, um gênero musical que simboliza a hibridez cultural da ilha e ressoa como um meio profundo de expressão, sentimento e resiliência. A improvisação, elemento fundamental da música taarab, oferece uma metáfora poderosa para a adaptabilidade e a interconexão humanas.
Ecos das complexidades da história de Zanzibar – um ponto de encontro de influências africanas, árabes, asiáticas e europeias – estão presentes na terceira Invocação, que propõe reflexões sobre as nuances e os sotaques da humanidade em uma ilha que é um ponto de interseção de múltiplas culturas, filosofias e ciências. Nas palavras de Djibril Diop Mambéty, a arte é “a gramática de nossas avós”, e o taarab incorpora essa essência por meio de sua mistura eclética de instrumentos musicais, letras poéticas e técnicas de improvisação. O rico tecido cultural de Zanzibar, refletido em sua língua, o suaíli, e em sua emblemática música taarab, será o palco dessa Invocação.
Curador geral Bonaventure Soh Bejeng Ndikung
Cocuradores Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza
Cocuradora at large Keyna Eleison
Consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus
Assistentes de curadoria André Pitol, Leonardo Matsuhei
Co-organizador Bernard Ntahondi
Diretora – DCMA Halda Alkanaan
Produtora local Thureiya Saleh
Realização Fundação Bienal de São Paulo